Quis o eng. João Mota Vieira reagir à análise que fiz sobre a mortalidade em S. Miguel em 2024, onde concluí não existir qualquer relação entre o aumento verificado e as decisões tomadas após o incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES). A liberdade de opinião é o direito de pensar e expressar sem medo e torna-se um exercício ainda mais saudável se for acompanhada de cordialidade, como foi o caso. Mas não deve dispensar o rigor e a verdade, premissas em falta na dita resposta.
Diz o Sr. eng. que não estabeleceu um nexo de causalidade entre o incêndio no HDES e o aumento da mortalidade na nossa ilha, tendo apenas escrito que “dificilmente se pode negar a ligação entre as decisões tomadas após o incêndio no HDES e este alarmante aumento da mortalidade em São Miguel e Santa Maria”.
Ora, a expressão “dificilmente se pode negar” implica que, mesmo que não haja uma prova absoluta ou formalizada, os indícios e a lógica dos acontecimentos tornam essa relação praticamente inegável. Ou seja, para o eng. João Mota Vieira há fortes sinais de que as decisões tomadas após o incêndio tiveram consequências negativas diretas na saúde pública, nomeadamente no aumento do número de óbitos. Uma conclusão tão precipitada quanto grave.
Além disso, a afirmação vincula explicitamente os dois fenómenos: de um lado, o incêndio e as decisões subsequentes; do outro, o “alarmante aumento da mortalidade”, que é apresentado como um efeito visível e preocupante dessas decisões. Portanto, não sugere apenas uma coincidência temporal, mas também uma relação de causalidade.
Não há outra maneira de dizer isto: a relação de causalidade estabelecida pelo eng. João Mota Vieira é grave, alarmante e sem fundamento factual. Até porque se enganou nos números, somando os valores relativos às ilhas de S. Miguel e Santa Maria, constantes na base de dados da Vigilância da Mortalidade da Direção-Geral da Saúde. Na proclamação do rigor, às vezes a pressa é traiçoeira…
Para que não subsistam dúvidas: em 2022 houve mais 103 óbitos em S. Miguel do que no ano do incêndio no HDES (1.342 em 2022, 1.239 em 2024). Entre 5 de maio e 31 de dezembro daqueles dois anos o resultado é idêntico, ou seja, em 2022 a mortalidade (883 óbitos) foi superior à verificada no ano passado (861 óbitos).
Então, qual a relação de tudo isto com as decisões tomadas após o incêndio no HDES? Nenhuma, obviamente!