Não é de hoje que os desportos motorizados, e em particular o Motocrosse, enfrentam um claro desinteresse por parte de quem tem responsabilidades na promoção do desporto nos Açores. Henrique Benevides, campeão açoriano e presença constante em provas nacionais há quase uma década, continua sem o apoio institucional equiparado às modalidades coletivas, pois é um piloto com calibre. Tal como José Silva já referia em crónicas anteriores, há um abandono preocupante daqueles que “vestem a camisola” dos Açores além-mar, num claro contraste com o investimento que se faz em modalidades coletivas.
É difícil compreender como é que um piloto que já venceu a primeira prova do Campeonato Nacional de Motocrosse MX50 de 2025, continua a ser tratado como se o seu valor fosse menor. Será que não é merecedor de apoio digno da parte da Direção Regional do Desporto? Será razoável que um campeão regional tenha de tentar disputar um campeonato nacional com pouco mais de 1.200 euros de apoio oficial? Como se isso bastasse para cobrir cinco deslocações ao continente, alimentação, estadias e toda a logística inerente à participação numa prova nacional.
Argumentos não faltam a quem tenta justificar o injustificável: que o piloto deve procurar apoio no tecido empresarial local. Ora, a verdade é que a família Benevides já o fez — e continua a fazê-lo. Conta com o apoio da Bentrans para o transporte das motas, recebe 1.350€ da Câmara Municipal de Ponta Delgada e 700€ da Junta de Freguesia das Feteiras. Mas o grosso das despesas é suportado pela família, que faz enormes sacrifícios para permitir que Henrique e o irmão Rodrigo possam competir. E ainda se questiona se isto é justo?
Com estas “migalhas”, é praticamente impossível ambicionar uma presença sólida e competitiva a nível nacional. O campeonato é exigente, não perdoa falta de preparação ou de recursos, e sem apoios sérios não há talento que resista. A paixão da família pelo Motocrosse é comovente, mas o esforço individual não pode continuar a colmatar as falhas de um sistema que devia apoiar e incentivar estes atletas e porque não revê-lo.
Mais grave ainda é o silêncio. Já passaram dois meses desde a vitória de Henrique e nenhuma linha foi escrita nos jornais diários sobre a falta de apoios e o que se pode fazer para mudar esse panorama. O Motocrosse não é caso único. O CD Santa Clara não pôde disputar a Taça Nacional de Futsal Feminino por falta de apoio financeiro, com a desculpa de que não houve campeão regional. Uma justificação que roça o ridículo e mostra bem como se trata o desporto amador na região.
O mesmo se verifica no Futsal Adaptado Masculino, onde, mais uma vez, o CD Santa Clara, vencedor da Taça de Portugal de Futsal Adaptado, só estará presente numa prova nacional por convite da Federação Portuguesa de Futebol, e não graças à ajuda da Direção Regional do Desporto.
Houve um tempo em que os contratos-programa com os clubes eram firmados a tempo e horas, permitindo um planeamento e execução atempada. Hoje, reina a incerteza, o desinteresse e a ausência de uma visão estratégica para apoiar verdadeiramente quem leva o nome dos Açores mais longe.