Andar faz sentido com prudência, atentos ao endosso da culpa ou das responsabilidades para que se consiga sentir a diferença. Assim, rememoração do 25 de Abril** não por reinterpretação a-histórica, mas pelo que ainda “falta cumprir” ante a relação de proximidade com o fascismo contemporâneo consequência das necessidades de reinventar… por imperativos da globalização como se a expressão “keynote speaker” a anunciar a conferência, [Falar em Liberdade: 50 anos do 25 de Abril], constituísse o disclaimer provido pela anglofonia por subnutrição de literacia da Revolução dos Cravos.

No interesse da homeostasia do país e porque não “é a economia, estúpido” só. O título vem revolver à laia de trendsetter de oposição ao desaparecimento dos factos por substituição das palavras, o estúpido é o povo permitir a espiral de ‘PRODEC – processo democrático em crise’, sedado pela transparência dos ministerialmente frágeis, vítimas de parágrafos, ou apelos engalanados de Bruxelas, ou injustiçados pela letra Lei, ou outros mais perto de Chelas, frustrados pela descoberta do suspenso, não suspenso, consubstancial aos seus interesses, uma conquista do proscénio deste tempo; a que se renderam os poderes públicos em todos os seus espaços políticos.

PARTE I

A escolha já não faz diferença?*

No horizonte perpetua a governança de baixas expetativas. Sem objetivo teórico particular, apesar da compatibilidade dos princípios, do deus Pareto, assim como de W. Buffet, até à última linha, tudo muda e nada muda conforme as substâncias de causa e efeito saturarem as suas propriedades. A realidade de uns ganharem, os outros terem que perder está garantida, aos não contributivos por dotações, sem retorno, repito. Angus Deaton, Nobel de Economia, sustenta que o crescimento de 2% – a Comissão Europeia corrige para 1,2% – pouco tem para distribuir sem sacrificar alguém. Daí as prebendas excessivas que inflacionam a dívida pública se deverem relacionar com os excedentes arrecadados durante igual exercício de desinvestimento… fim do tríptico analógico: a capacidade de aplicação dos fundos.

 

Chega de análise e desembarque da diálise; por que o maniqueísmo político desespera nas suas bandeiras? Pela nudez desde a nascença e não lhes disseram. E que os últimos anos de governação, os últimos de cada um, em estado comatoso, por isso ‘inimputáveis’, agora quererem reafirmar [a sua ideologia (…)] “para responder aos problemas das pessoas e manter a democracia e o Estado democrático.”

Como avestruzes, entre cartas e respostas ignescentes seguem a ‘dissimetria’ dos símbolos – devolvidos – discursos, narrativas, estórias e politiquice e inépcia ao permanecer, mesmo, na narrativa dominante. Atentemos à dificuldade da normalização da relação com as forças políticas do processo democrático a cada subida do pano.

Em início de legislatura, a matiz oposicionista adotou o lema: não “ser o suporte de um governo que prometeu ao país mudar as políticas socialistas”, hilário, pode prefigurar um grande projeto de oposição por procuração ao próprio PS. Qualquer ponderação racional não vislumbra instância de sinais percursores de renovação, mas uma prorrogação dos ‘problemas das pessoas, fins imediatos e mediatos concretos, a “desconsolidação” da democracia’ e o primado da conveniência circunstancial.

Por displicência fazer-se representar numa tomada de posse de governo resume o encorajamento e o apelo a ideias especulativas, por dificuldade em saber estar, face à ameaça de uma “extrema-direita” crescente, constatado pelo líder contrito, ausente. Do plácido ao opaco é o trajeto político próprio de um fragmentado meio ambiente incompatível com a democracia, em compressão e reprogramação da opinião, radicalizada até ao limite da desvalorização do número de mortos, segundo a equação dos fins que justificam os meios, pelo efeito das palavras, insanidade da beligerância, empenhamento de aliados em desalinho, etc. Partes ulteriores, de factos mais longínquos, igualmente com efeitos de profusão noticiosa transfronteiriça e contagiosa, favorecendo precisamente os fluxos de informação bloqueados a qualquer argumento racional.

Sobretudo a ‘adulação’ exaustiva, ao sair da margem política veio trazer a virtus in medium est, desfazer a bipolaridade, evidenciar nas margens sociais, os escalões mais baixos da pirâmide de Maslow, e recrutar atores, igualmente marginais com linguagem adequada aos segmentos do eleitorado. O discurso que determinou como votar em março não foi o do medo, mas o da precaridade, escassez e o da corrupção. Nem assim os direitos prescritos por leis universais e abstratas corrompidos para benefícios por desigualdade, deixaram de ser retransmitidos por consentimento geral.

Sofremos da síndrome da Coreia do Sul!

 

 

¹ Dito de Émanon de Valera. Do postulado de persistências pérfidas ao modo consequente de íntegra defesa, “J’Accuse…!”, de Émile Zola.

 

*Crónica de Geraldo Pestana publicada no jornal Açoriano Oriental a 15 de abril de 2024.

** Abertura a 25 de abril da série, Sumário: Proficiente continuação da matéria anterior.

 

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