O vogal do conselho de administração do hospital de Ponta Delgada José Barreto Carvalho denunciou hoje “irregularidades” na gestão da instituição, como a “adulteração” de atas, mas a ex-presidente Manuela Gomes de Menezes disse que são acusações “totalmente falsas”.
“Não posso aceitar, porque não compreendo, este tipo de situações que se passaram, não só pela não elaboração das atas, mas também por questões da sua adulteração”, referiu o administrador, ouvido hoje na comissão parlamentar de inquérito ao incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), reunida em Ponta Delgada, referindo-se à gestão da ex-presidente do conselho de administração Manuela Gomes de Menezes.
Segundo José Carvalho, uma das atas das reuniões da administração do maior hospital dos Açores incluí a posição da antiga presidente, que levantava dúvidas sobre a opção sugerida pelo Governo Regional (PSD/CDS-PP/ PPM) de adquisição de um hospital modular para repor o normal funcionamento da unidade de saúde, que foi danificada por um violento incêndio, em 04 de maio de 2024.
“Essa posição nunca aconteceu”, assegurou o vogal, acrescentando que “a mentira tem perna curta” e que é “incompreensível” que as atas das reuniões que não foram elaboradas e aprovadas atempadamente tenham sido redigidas e apresentadas aos restantes administradores, quase de uma só vez, nos meses de setembro e outubro do ano passado.
José Carvalho disse também aos deputados que se recusou a assinar as atas “de cruz”, por não conseguir confirmar se aquilo que estava escrito correspondia à realidade e lembrou que, além dele, também outros administradores se recusaram a assinar os documentos.
As acusações do vogal hospitalar, que continua em funções no HDES, foram, no entanto, negadas por Manuela Gomes de Menezes, que também foi ouvida hoje na comissão de inquérito, criada pelo parlamento açoriano, por proposta da bancada do PSD.
“São acusações gravíssimas que são totalmente falsas”, garantiu a ex-presidente do HDES, acrescentando estar “indignada” pelas declarações “gravíssimas” de José Carvalho a propósito de uma alegada “adulteração das atas” e indicando que já encaminhou a situação para os advogados para que seja reposto o seu “bom nome”.
Por outro lado, a ex-presidente do HDES, entretanto substituída por Paula Macedo (diretora clínica à altura do incêndio), garantiu que a construção de um hospital modular, para que fosse retomada a normalidade dos serviços hospitalares enquanto não fossem realizadas obras de recuperação do edifício principal, foi uma opção meramente clínica.
“O projeto de um hospital modular, no valor de 11 milhões de euros, não foi apresentado formalmente à administração”, insistiu Manuela Gomes de Menezes, garantindo que apenas a direção clínica e a tutela é que decidiram avançar com o investimento, cujo valor global terá custado mais do triplo do que o montante inicialmente previsto.
O parlamento açoriano criou uma comissão de inquérito para apurar as causas e as consequências do incêndio que ocorreu no HDES, e para avaliar também as medidas tomadas pelo governo na gestão da catástrofe, após o incêndio.
A comissão deverá apresentar um relatório final, no prazo de 120 dias (a contar do mês de fevereiro), com as suas conclusões.
O incêndio que deflagrou no dia 04 de maio no HDES, na ilha de São Miguel, teve origem “em baterias de correção do fator de potência” e foi combatido durante cerca de sete horas pelos bombeiros, obrigando à transferência de todos os doentes internados para outras unidades de saúde, incluindo para fora da região.
Os prejuízos provocados pelo fogo estão estimados em mais de 24 milhões de euros.