Esta semana o foco recai sobre a importância dos debates eleitorais, em Portugal. Será que devemos pensar o modelo de debate político antes que se acentue a sua perda de relevância? Os debates eleitorais fazem parta daquilo que considero ser uma espécie de rotina da democracia portuguesa (e não só), desde o 25 de Abril. De facto, foram, durante décadas, momentos absolutamente centrais das campanhas políticas. Eram esperados com expectativa, acompanhados com a maior das atenções e, em muitos casos, decisivos para a formação de opinião e orientação do sentido de voto dos eleitores. À medida que o tempo passou e, com isso, o comportamento dos eleitores se foi alterando, é legítimo perguntar: continuam os debates a desempenhar um papel central e esclarecedor para os eleitores ou tornaram-se apenas uma espécie de ritual inócuo no âmbito das campanhas eleitorais?

Todos os modelos de debates apresentam problemas, desvantagens e vantagens. Contudo, creio que devemos refletir acerca do presente. Com efeito, o modelo atual de debates apresenta, na minha perspetiva, problemas evidentes. Desde logo, a forma rígida como são realizados os debates, com tempos cronometrados ao segundo, numa sucessão de temas generalistas, que impede claramente a profundidade e o desenvolvimento de ideias. Em vez de um real confronto de ideias, temos frases amplamente ensaiadas, repetições e soudbites. Os candidatos, forçados a desenvolver um discurso minimamente articulado e lógico, encaram um desafio acrescido para tentarem captar a atenção dos eleitores. Em suma, perde-se substância. Há pouca clareza.

Cada vez mais, os eleitores são confrontados com uma maratona de encontros a dois entre candidatos, difíceis de acompanhar e, em muitos casos, redundantes, sobretudo se pensarmos nos candidatos do mesmo espectro político. Num sistema partidário como o português, com uma representação cada vez mais plural na Assembleia da República, optar por excluir modelos de debates mais amplos entre todas as forças é, por si só limitar a democracia. Além disso, a meu ver, a fragmentação, no que diz respeito aos debates enfraquece o próprio debate e esgota o público.

Mas voltemos à questão central: os debates ainda influenciam o voto dos portugueses? Os dados disponíveis sugerem que, para uma parte considerável dos eleitores, a decisão de voto é tomada antes dos próprios debates acontecerem. Para essa parte do eleitorado, os debates tendem a servir como uma confirmação de uma opinião prévia, ao invés de servirem precisamente para a formação dessa opinião acerca de um determinado candidato ou partido. No fundo, confirmam-se convicções.

Também creio que não será minimamente surpreendente dizer que grande parte dos cidadãos não assiste sequer aos debates na sua totalidade. Preferem ver os excertos virais, os momentos partilhados nas redes sociais, uma frase menos feliz ou os 30 segundos mais polémicos. A política dos clips está aí, num momento em que a profundidade dos debates é claramente ultrapassada pelo entretenimento. Podia discorrer acerca da relação entre política e entretenimento, mas ficará para outras núpcias. Este fenómeno afeta, sobretudo, os eleitores mais jovens. Para uma geração habituada a interações rápidas através da evolução do mundo digital, os debates televisivos parecem ser intermináveis, aborrecidos e distantes. Num ecossistema novo, os debates como os conhecíamos são pouco relevantes.

Que soluções há, então? Noutros países têm-se experimentado modelos mais exigentes e, consequentemente mais eficazes. Debates temáticos, podem ser uma forma interessante de captar a atenção do eleitorado relativamente a algo que os afeta nas suas vivências diárias (saúde, educação, habitação, segurança, etc). O foco temático, pode ser agradável para o eleitor e obriga os candidatos a prepararem-se melhor, a oferecerem respostas concretas sobre um determinado tema. Isto permite que os eleitores possam comparar as propostas com mais clareza. E porque não incluir mais a sociedade civil? Fomentar a interação mais direta entre eleitor e candidato? Porque não permitir que os cidadãos enviem perguntas aos candidatos, não tornaria o debate mais próximo, mais orgânico? É certo que isso traria desafios alocados, mas isso quer dizer que não deve ser experimentado?

Urge romper a bolha política e mediática, onde muitas vezes os debates se encerram. É inevitável adaptar os debates às novas formas de comunicação. É necessário integrar formatos que se complementem e cativem os eleitores. A democracia portuguesa merece mais do que confrontos vazios e frases feitas. Os debates têm de voltar a ser centrais. Não podemos continuar a ignorar o óbvio, a bem da própria democracia. É urgente repensar o modelo de debates políticos em Portugal, antes que estes percam a relevância que ainda vão tendo.

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