A Câmara das Velas, nos Açores, vai criar um Centro Municipal de Proteção Civil para albergar agentes de fora da ilha e rastrear habitantes em caso de necessidade de evacuação, por exemplo, num cenário de erupção vulcânica, anunciou hoje.
A apresentação do projeto foi feita pelo município, quando passam três anos do início da crise sismovulcânica na ilha de São Jorge.
Em 19 de março de 2022, a atividade sísmica registou um incremento na ilha, com valores acima dos níveis normais de referência.
O nível de alerta do Sistema Vulcânico Fissural de Manadas, na ilha de São Jorge, foi elevado em 23 de março de 2022 para V4, o mais elevado pré-eruptivo, o que motivou a saída de cerca de metade da população das Velas (cerca de 2.500 pessoas) no espaço de uma semana.
Desde março de 2024 que o nível de alerta está em V1 (numa escala de 0 a 6), que significa que há “sinais de fraca atividade”, mas a autarquia quer preparar o concelho para um cenário de catástrofe.
“A população hoje esqueceu-se que houve crise sísmica. Sem qualquer alarmismo, a verdade é que ela ainda existe. Ainda existe um alerta V1. É o nível mais baixo, isso despreocupa as pessoas, mas não nos despreocupa a nós, enquanto agentes de proteção civil”, disse à agência Lusa o presidente do município das Velas, Luís Silveira (CDS-PP).
O Centro Municipal de Proteção Civil, que será instalado na freguesia das Manadas, junto ao concelho vizinho da Calheta, pretende dar resposta às necessidades sentidas aquando do auge da crise sísmica”.
“Nós sentimos a necessidade de um espaço que pudesse albergar as pessoas e entidades que nos vêm ajudar no âmbito da calamidade e da catástrofe”, explicou Luís Silveira.
Perante a ameaça de erupção vulcânica, São Jorge acolheu, no início da crise, cerca de 200 pessoas de fora da ilha, de diferentes entidades como Proteção Civil dos Açores, PSP, GNR, Direção Regional da Saúde, Forças Armadas e Cruz Vermelha Portuguesa.
“Aquando da crise sísmica nós ficámos com um único restaurante aberto na vila das Velas, o que foi um problema inclusive para servir refeições às pessoas”, lembrou o autarca.
O Centro Municipal de Proteção Civil terá “camaratas femininas e masculinas, com capacidade para albergar 60 pessoas em simultâneo, balneários e uma cozinha preparada para apoiar com as refeições não só de quem lá estiver a pernoitar, mas para levar até ao terreno”.
O espaço, que poderá também apoiar o concelho da Calheta, em caso de necessidades, terá ainda um gabinete médico e uma zona de rastreio e encaminhamento da população num cenário de evacuação para o concelho vizinho ou para fora da ilha.
Terá também uma sala de comando e um armazém para guardar equipamentos de autonomia e eficiência energética e meios de primeira intervenção.
“Temos um grande problema em Velas, que é a falha sísmica que existe e que atravessa a estrada única de acesso à vila e temos o receio de, um dia, todos os serviços estarem concentrados dentro da vila e nós ficarmos sem acesso à mesma. Este centro vem ajudar também a colmatar esta eventualidade”, adiantou Luís Silveira.
O centro será instalado num edifício que já é propriedade da Câmara Municipal das Velas, mas a adaptação representa um investimento na ordem dos 1,4 milhões de euros.
O município concorreu aos fundos comunitários do programa Açores 2030, mas a candidatura foi rejeitada.
“Estamos a preparar uma ação para o Tribunal Administrativo, porque entendemos que a rejeição desta candidatura a fundos europeus não é aceitável. Vamos avançar com o investimento com fundos próprios, mas na expectativa ainda de que o Tribunal Administrativo nos venha a dar razão”, revelou o autarca.
O projeto está concluído e o município está agora a preparar o caderno de encargos.
Luís Silveira espera conseguir consignar a obra até ao final do mandato, o terceiro e último que faz à frente do município das Velas.
Quando passam três anos do início da crise sismovulcânica em São Jorge, o autarca defendeu que as autoridades estão mais conscientes da necessidade de investimento em proteção civil.
“Ter vivenciado aquilo que vivenciámos enquanto agentes de proteção civil, trouxe-nos um sentido de responsabilidade acrescida e de noção sobretudo das necessidades. Passou a ser uma prioridade no investimento da autarquia”, vincou.
Apesar de o nível de alerta vulcânico ter baixado, “o município continua a fazer pedagogia junto da população”, que, segundo o autarca, “está mais desperta e mais sensível hoje para receber informação dos organismos públicos que tutelam a área da proteção civil”.