Mais de duas mil pessoas já subscreveram uma petição, entregue na Assembleia Legislativa dos Açores, contra a eventual legalização da denominada sorte de varas ou lides picadas nos espetáculos tauromáquicos a realizar no arquipélago.
“Para quem não sabe, a sorte de varas constitui um ato bárbaro, em que o touro é picado de forma bastante violenta, causando danos bastante grandes, do ponto de vista muscular e neurológico”, advertiu Jéssica Pacheco, primeira subscritora da petição, durante uma audição realizada hoje na Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do parlamento regional, que se reuniu em Ponta Delgada.
No final de janeiro, no IV Fórum Mundial da Cultura Taurina, o antigo presidente da Tertúlia Tauromáquica José Parreira defendeu a legalização na região da sorte de varas, em que os touros são picados, e o secretário regional da Agricultura e Alimentação (PSD/CDS/PPM), António Ventura, desafiou a Tertúlia a tentar que a sorte de varas seja discutida no parlamento, alegando que a sua composição atual, com oito partidos e sem uma maioria absoluta, “pode ser uma vantagem”.
“A provedora regional do Animal já disse, em declarações aos jornalistas, que a sorte de varas configura, claramente, um ato de maus-tratos aos animais e representa um retrocesso civilizacional”, recordou Jéssica Pacheco, acrescentando que, “mais do que opiniões pessoais”, os deputados devem ter em consideração a posição de “entidades independentes e de renome” que possam fazer a análise do eventual regresso da sorte de varas nos Açores.
Para a representante, seria também um “contrassenso” se a legislação regional fosse alterada para o permitir, por ter “efeitos negativos” na imagem internacional da região, já que não se coaduna com o destino de natureza destas ilhas.
A sorte de varas (espetáculo em que o touro é picado por uma lança, já foi aprovada na Assembleia Legislativa dos Açores em 2002, mas o diploma acabou por ser vetado pelo ministro da República de então, Sampaio da Nóvoa, e enviado para o Tribunal Constitucional, que o rejeitou.
Em 2009, um grupo de deputados liderado pelo social-democrata José Manuel Bolieiro (atual presidente do Governo Regional dos Açores) tentou levar a sorte de varas de novo ao parlamento regional, com o apoio de vários outros parlamentares do PSD, do PS, do CDS e do PPM.
O argumento invocado, na ocasião, era que as lides picadas permitiriam melhorar a “qualidade artística” das touradas na ilha Terceira, atraindo e satisfazendo as exigências das grandes figuras do toureio mundial, mas o diploma acabou chumbado, por apenas um voto de diferença.