A moção de confiança apresentada no Parlamento precipitou um dos momentos mais incertos da política portuguesa nos últimos anos. Com o governo a cair, abre-se um novo capítulo de instabilidade e incerteza. O que esperar do futuro próximo? Quais os cenários políticos que se desenham? E, mais importante, como reagirá o eleitorado a esta nova convulsão?
Depois de vários anos de austeridade e da gestão da pandemia, Portugal enfrenta um desgaste institucional evidente. O governo perdeu a capacidade de governar com a estabilidade necessária. A moção de confiança revelou-se fatal.
Esta nova eleição não é apenas um teste aos partidos, mas também um exame à paciência do eleitorado. O cansaço político pode traduzir-se num aumento da abstenção, no reforço de partidos antissistema ou num voto de protesto contra os partidos tradicionais. O que está em causa não é apenas a escolha de um novo governo, mas a definição do próximo capítulo político do país.
Os cenários são variados e não isentos de riscos. Vejamos algumas das possibilidades mais prováveis: Se o PS conseguir mobilizar os eleitores insatisfeitos, poderá emergir como a força mais votada. No entanto, Pedro Nuno Santos parece não colher simpatias internas ou externas ao partido para o efeito. Além disso, sem uma maioria absoluta, terá de negociar alianças, algo que nem sempre é fácil num Parlamento fragmentado.
Outra hipótese é um governo formado por uma coligação de partidos, com acordos programáticos que permitam a estabilidade necessária. No entanto, esta solução também tem desafios: divergências ideológicas podem tornar-se um obstáculo à governabilidade.
O descontentamento com os partidos tradicionais tem favorecido forças políticas mais radicais, sobretudo à direita do espectro político. Um crescimento significativo destes partidos poderia criar um Parlamento ainda mais dividido, dificultando qualquer tentativa de estabilidade.
Se nenhum partido conseguir garantir uma base de apoio suficiente, podemos entrar num período prolongado de negociações infrutíferas, levando a uma nova crise e, eventualmente, a novas eleições num curto espaço de tempo.
A reconfiguração do xadrez político vai depender, em grande parte, do comportamento dos eleitores. Em momentos de crise, a população tende a dividir-se entre aqueles que procuram estabilidade e aqueles que optam por uma rutura radical. O aumento da abstenção é uma hipótese real. Muitos cidadãos vêem a classe política como incapaz de responder aos seus problemas, afastando-se do processo democrático. No entanto, este afastamento apenas fortalece opções que podem ser ainda menos representativas dos interesses coletivos.
Por outro lado, também pode haver uma radicalização do voto. Partidos que se apresentam como alternativas fora do sistema têm sabido canalizar o descontentamento. O crescimento do Chega, por exemplo, é um reflexo deste fenómeno.
A próxima escolha eleitoral será determinante não apenas para os próximos quatro anos, mas para a própria qualidade da nossa democracia. O país precisa de estabilidade, mas também de respostas concretas para os seus problemas estruturais: a crise na habitação, o envelhecimento da população, a necessidade de uma economia mais robusta e competitiva. Estas questões são mais importantes do que os jogos de poder entre partidos.
A responsabilidade agora está nas mãos dos eleitores. Resta saber se a sociedade responderá com participação e sentido crítico ou se deixará que a apatia decida o rumo do país. Uma coisa é certa: a história não se escreve sozinha, e cada voto é uma linha desse futuro que está por definir.