Os movimentos de vertentes na ilha de São Miguel, a mais atingida dos Açores por este fenómeno natural, registou desde o início do século XX 82 mortes, 41 feridos e 305 desalojados, revelou hoje o especialista Rui Marques.
Doutorado em Riscos Geológicos pela Universidade dos Açores, Rui Marques considerou que a freguesia da Ribeira Quente, na ilha de São Miguel, é responsável por 34% dos movimentos de vertentes.
O especialista em riscos geológicos falava no campus de Ponta Delgada da Universidade dos Açores, durante a apresentação do projeto Prismac, que visa analisar, mitigar e gerir riscos naturais.
Rui Marques, que é um dos coordenadores daquele projeto, considerou que a Ribeira Quente, servida por uma estrada de 6,5 quilómetros, constitui uma zona de “elevada suscetibilidade” e com um “grau de risco de grande dimensão”.
O elemento da Universidade dos Açores manifestou-se contra a construção de uma segunda via para a freguesia da Ribeira Quente [só há uma via de acesso à localidade], tendo defendido que o dinheiro para a sua construção deve ser canalizado para a “mitigação e monitorização do risco existente na estrada” atual.
A freguesia da Ribeira Quente, onde em 31 de outubro de 1997, morreram cerca de 30 pessoas na sequência de um deslizamento de vertente, vai ser a região piloto nos Açores para o desenvolvimento do Prismac, segundo revelou o outro coordenador do projeto, o arquiteto João Costa.
Em declarações aos jornalistas, João Costa disse que o projeto “terá um potencial enorme” e que será uma “base científica que vai culminar com a instalação de um sistema de alarme e alerta a instalar na Ribeira Quente, um projeto-piloto a nível europeu”.
João Costa, da direção regional das Obras Públicas, referiu que se pretende depois estender o projeto-piloto a outras regiões do arquipélago como a Fajãzinha, na ilha das Flores, outra zona sensível em termos de movimentos de vertente, ou a Maia, na ilha de Santa Maria.
O arquiteto apontou que se pretende desenvolver um “instrumento que possa informar se é seguro ou não usar a estrada” de acesso à Ribeira Quente, destacando que “é possível prever quando existe um elevado risco dos movimentos de vertente, salvando pessoas e bens”.
O projeto Prismac “está a arrancar e vai ter que trabalhar toda a informação histórica [dados meteorológicos], que depois irá alimentar um algoritmo que estará na base do sistema de alerta e alarme”,devendo ser concluído em 2028.
Cofinanciado pelo Interreg Mac 2021-2027, o projeto Prismac envolve os Açores, Cabo Verde e Canárias, estando orçado em 1,2 milhões de euros.