A Associação de Municípios dos Açores considerou hoje que um eventual encerramento do consulado em Ponta Delgada seria “uma notícia muito negativa” para a região, atendendo à “estreita relação” do arquipélago com os Estados Unidos da América (EUA).
“Vamos avaliar e esperar pela resposta mais definitiva. Mas (…) julgo que seria negativo para os Açores, atendendo à estreita relação que temos com os Estados Unidos da América”, afirmou o presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores (AMRAA).
Alexandre Gaudêncio falava aos jornalistas à margem da assinatura de um protocolo entre a Associação de Municípios dos Açores e a Fair Pay Foundation, uma iniciativa do Instituto de Formação e Pesquisa da Organização das Nações Unidas (UNITAR).
Questionado sobre a hipótese de vir a ser encerrado o consulado dos EUA, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, o presidente da Associação de Municípios dos Açores disse que seria de lamentar e significaria “mais um retrocesso no processo de afirmação dos Açores nos Estados Unidos da América”.
Alexandre Gaudêncio, que é também presidente da autarquia da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, recordou que existem muitos municípios açorianos que “têm cidades irmãs nos Estados Unidos”, alegando que se perderia “um elo de ligação (…) extremamente importante”.
O autarca destacou também o papel que os cônsules têm desempenhado nos Açores e o “trabalho de proximidade (…) muito profícuo na relação entre Portugal e os Estados Unidos”.
O Governo português negou hoje à Lusa que a administração norte-americana, presidida por Donald Trump, tenha decidido encerrar o consulado de Ponta Delgada, nos Açores, classificando como especulação notícias que davam conta dessa medida no verão.
“De acordo com a informação de que dispomos neste momento, não há planos para encerrar o consulado de Ponta Delgada, nos Açores”, afirmou hoje, em resposta à Lusa, fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).
A mesma fonte da diplomacia portuguesa referiu que “a atual administração americana, como outras que a antecederam, analisaram as embaixadas e consulados que têm espalhados pelo mundo e não foi tomada decisão sobre os postos em Portugal”.
“Assim, quaisquer notícias sobre o assunto são apenas especulação”, acrescentou ainda o MNE, liderada por Paulo Rangel.
O jornal The New York Times noticiou na quinta-feira que o Departamento de Estado norte-americano – equivalente ao MNE – incluiu o consulado de Ponta Delgada, nos Açores, numa lista de 12 representações diplomáticas a encerrar durante o verão.
De acordo com o jornal, que citava funcionários norte-americanos, entre os escritórios consulares afetados estão Ponta Delgada, Florença (Itália), Estrasburgo (França), Hamburgo (Alemanha) e alguns no Brasil.
O plano inclui também o despedimento de cidadãos locais que trabalham para as centenas de embaixadas e consulados dos EUA que apoiam o trabalho do pessoal diplomático, segundo o jornal norte-americano.
Segundo o site da embaixada norte-americana em Portugal, o consulado em Ponta Delgada tem como funções principais “manter os laços históricos de parceria e amizade com o povo e governo da Região Autónoma dos Açores de Portugal”, além de “fornecer serviço de alta qualidade aos cidadãos dos EUA nos Açores, salvaguardando a sua segurança e bem-estar” e “aumentar os intercâmbios educacionais, comerciais e culturais entre os EUA e os Açores, especialmente nas energias renováveis e desenvolvimento de tecnologia verde, negócios e turismo”.
Apesar de haver um vice-cônsul nos Açores desde 1790, o consulado dos Estados Unidos nos Açores só foi formalmente estabelecido em 07 de julho de 1795, quando John Street foi promovido a cônsul e, refere a mesma fonte, “desde essa altura que existe um representante dos EUA nos Açores, fazendo com que este seja o mais antigo do mundo em operação contínua”.
Ao longo dos anos, houve agências consulares nas Flores, São Jorge e Terceira. Em abril de 1899, o Consulado foi transferido para Ponta Delgada, permanecendo na Horta uma agência consular, refere ainda a embaixada norte-americana.
Segundo o Times, o encerramento de consulados alinha-se com os planos do bilionário Elon Musk, que o Presidente Donald Trump colocou na liderança do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla inglês), de cortar drasticamente os gastos do governo.
O plano envolve o encerramento de departamentos e programas, demitindo funcionários federais em massa.