No dia 5 de fevereiro de 1870 pelo empenho, criatividade e concretização de Manuel Augusto Tavares de Resende (1849-1892) é publicado pela primeira vez em Ponta Delgada, o então, novo Diário dos Açores, um Jornal que desde a primeira hora teve como preocupação a sua sustentabilidade económica e financeira, num meio pequeno e com hábitos de leitura muito localizados nas elites e funcionários, muitos deles auto didatas, este quadro difícil levou o promotor e seu primeiro Diretor do Jornal a um conjunto de iniciativas, à época, inovadoras, para captar leitores, dignas de registo, mas também apostou forte na informação de notícias de acontecimentos internacionais, nacionais e regionais, que dificilmente chegavam ao conhecimento do público, o exemplo mais comprovado foi a informação relacionada com a guerra franco-prussiana. Segundo a história conhecida do Diário dos Açores a publicação do Diário de Notícias 5 anos antes em Lisboa, teria também contribuído para que Manuel Augusto Tavares de Resende tivesse tomado a iniciativa de criar o Diário dos Açores.
O séc. XIX nos Açores e no País, foi um tempo de contestação, de inovação e de lançamento da mudança a todos os níveis, no Arquipélago marca o início do fim do ciclo da laranja, que tanta acumulação de capital tinha permitido nos Açores, constituída à custa da exportação da laranja, e surgem as primeiras respostas à crise da laranja, com ensaios e lançamento de novas culturas e espécies, como o ananás, a criptoméria, e o chá. É criada em 1843 a Sociedade Promotora Micaelense, muito importante para a mudança na agricultura, onde se destacam os irmãos Ernesto e José do Canto, exemplos da que viria a ser apelidada como a geração de oiro açoriana, no plano económico e cultural. Mas se no plano interno temos toda esta vitalidade, no plano externo nacional os açorianos destacam-se e ocupam lugares de relevo, na oposição temos a geração de 70, com Antero de Quental à cabeça promovendo as Conferências do Casino (1871), onde participam açorianos que mais tarde ocupariam lugares cimeiros no País, como Manuel de Arriaga (1840-1917) e Teófilo Braga (1843-1924), mas no outro campo das ideias temos outros açorianos a marcar este século, como António José de Ávila (1897-1881), o Marquês de Ávila e Bolama, e Ernesto Hintze Ribeiro (1849-1907), ocupando quase tudo o que eram cargos de relevo no País, designadamente o de Presidente do Conselho de Ministros.
O Diário dos Açores é contemporâneo destes tempos e resiste até aos nossos dias com uma liderança/gerência em que marcam presença o Américo Natalino Viveiros, e o Paulo Viveiros, e uma Direção assegurada pelo Paulo Viveiros e o Osvaldo Cabral, cujos editoriais são relevantes contributos para o acompanhamento e apreciação principalmente da atividade pública nos Açores.
Nos dias que correm é um ato de heroísmo manter um jornal em papel nos Açores, considerando a dimensão do nosso mercado, o custo do papel e os outros custos fixos e variáveis para produzir o jornal e a implacável concorrência, designadamente a originada nas redes sociais, que tornam inviável do ponto vista financeiro um projeto desta natureza, mesmo com muitos contributos de colaboradores, pro bono ou quase pro bono, razão porque nas sociedades democráticas é normal o apoio público à imprensa escrita e outra, e desde que regulada e transparente, por forma a que a liberdade de imprensa, seja preservada, pois a não ser assim, converte-se em propaganda.
Os meus parabéns por mais este aniversário, aos acionistas, direção do Jornal, trabalhadores, distribuidores, colaboradores e também aos leitores por poderem dispor deste órgão de comunicação social que é o Diário dos Açores.