Foto: CMC

O especialista em relações internacionais António José Telo defende que o “discurso da força” da administração Trump obrigará Portugal, aliado dos EUA e membro da NATO, a “repensar” a ligação a Washington e na Aliança Atlântica.

Em entrevista à Lusa,

afirmou que “há uma alteração, sem dúvida”, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, na forma como se enquadram no contexto global Portugal e a consequente posição geoestratégica dos Açores.

O professor catedrático e doutorado em História sublinha que existe uma “importância muito significativa dos espaços marítimos”, a par da rota do Norte, “onde cada vez mais navios passam durante mais tempo” e que, “se Trump levantar a Gronelândia em termos internacionais”, esta é uma via “muito mais rápida entre o Pacífico e o Atlântico”.

O Ártico, explica o professor, é “há muito um centro de rivalidades e confronto entre os grandes poderes”, onde a Rússia, China e Estados Unidos possuem interesses, “ligando-se diretamente com o Atlântico Norte” e com o espaço marítimo do Reino Unido e de Portugal.

“É este conjunto que tem que ser encarado a uma nova luz”, a “luz da força do que os novos meios aéreos, marítimos e aeronavais permitem em termos de controlo desse espaço, não só no sentido da aplicação da lei mas também da aplicação da força”, sustenta António José Telo.

De acordo com o especialista, “é a esta luz que se tem que encarar os espaços arquipelágicos” como os Açores, onde os Estados Unidos possuem uma base militar, na ilha Terceira, desde a 2ª. Guerra Mundial, cuja importância se tem vindo a acentuar ou a atenuar em função das mutações em termos geopolíticos no globo.

No caso de Portugal “e dos Açores, em particular”, que são o “grande fator de acesso ao espaço marítimo do Atlântico Norte”, pensava-se “até agora que o facto de pertencer à NATO era garantia de segurança necessária e suficiente, nomeadamente em relação à ampla zona marítima e o arquipélago”.

“Talvez agora tenha que se repensar isso e o fundamental não seja o facto de pertencer à NATO, mas a relação com os Estados Unidos e a forma como essa é gerida”, defende.

Para o historiador, Portugal e o seu espaço marítimo, “marcado pelo arquipélago dos Açores”, está “ensanduichado” entre a Gronelândia e o Panamá.

António José Telo frisa que o papel dessa zona, onde se situam os Açores, “mudou dentro do novo discurso da força e da nova maneira de pensar o controlo da zonas marítimas e o exercício do poder naval”.

O especialista em relações internacionais considera que “há um erro muito usual de que Trump mudou o mundo”, quando “é exatamente ao contrário”, ou seja, “o mundo mudou e Trump é uma consequência dessa mudança”.

“Trump limita-se a cavalgar uma mudança de fundo que não depende dele, que surgiu existisse ele ou não”, afirma o docente.

Tal como Putin, Trump “cavalga essa mudança que tem a ver com a rapidez da alteração”, sendo este um novo “paradigma das novas relações internacionais”.

No anterior paradigma, o direito internacional “limitava o que se podia fazer”, mas houve uma “mudança drástica” e a “única coisa que conta nas relações internacionais é a força” e o direito “é um mero pormenor de segurança”.

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