O ex-administrador do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, António Vasco Viveiros, criticou hoje a opção do Governo dos Açores pela construção de um hospital modular, defendendo, em alternativa, a recuperação daquela unidade de saúde.
“Como era possível recuperar o hospital, e nós tínhamos consciência disso, é evidente que sempre tive dúvidas técnicas relativamente à opção do modular”, explicou o ex-administrador, durante uma audição parlamentar, a pedido da bancada do PS, na Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Legislativa dos Açores, reunida em Ponta Delgada.
António Vasco Viveiros, que já foi deputado ao parlamento açoriano, eleito pelas listas do PSD, foi nomeado pelo executivo de coligação (PSD, CDS-PP e PPM) para vogal do Conselho de Administração do HDES, dias após o incêndio de 04 de maio de 2024, que destruiu, parcialmente, a maior unidade de saúde do arquipélago, mas acabou afastado do cargo em dezembro.
Na sua opinião, a opção pela construção de um hospital modular, de caráter provisório, onde o Governo já terá investido cerca de 30 milhões de euros, provocou “divergências” entre os elementos do Conselho de Administração, e apenas a direção clínica é que terá concordado com essa solução.
“A opção foi decidida e proposta pela direção clínica, foi assumida pela tutela, e não foi um processo que tenha sido agendado para qualquer reunião do Conselho de Administração”, recordou o ex-administrador, admitindo que a presidente do Conselho de Administração, na altura, também tinha “muitas dúvidas” em relação ao hospital modular.
Para Vasco Viveiros, o executivo açoriano deveria ter investido na recuperação das áreas afetadas pelo incêndio, de forma a permitir a reabertura da atividade hospitalar no mais curto espaço de tempo, para evitar que os utentes do Serviço Regional de Saúde fossem penalizados.
“Devido a esse período de inatividade do hospital, para muitas centenas ou milhares de doentes perde-se a janela de oportunidade para o seu tratamento. E Isso é uma situação grave”, alertou o ex-administrador, acrescentando que “a primeira prioridade” da tutela deveria ter sido “repor a atividade” hospitalar, “para que os doentes não tivessem um intervalo tão grande sem tratamento”.
Vasco Viveiros admitiu agora que terão sido estas suas críticas às opções do Governo do seu partido que terão levado a que tivesse sido “afastado” deste processo e das funções que exercia no HDES, mas fez questão de explicar que as suas divergências são de caráter técnico e não político.
O executivo de direita nos Açores nomeou, entretanto, uma nova presidente do Conselho de Administração do HDES, Paula Macedo, que foi uma das grandes defensoras da aquisição de um hospital modular, embora tenha reconhecido que essa escolha, provocou “alguma tensão no seio da Administração”.
A nova presidente do Hospital de Ponta Delgada anunciou que a nova administração está a preparar um “plano funcional” para o HDES, para os próximos 25 anos, que contempla a realização de obras estruturais no edifício danificado pelas chamas, mas também um reforço dos recursos humanos, que continua a ser um dos principais problemas daquela unidade de saúde.
O incêndio que deflagrou no dia 04 de maio de 2024 no HDES, na ilha de São Miguel, teve origem “numa das duas baterias de correção do fator de potência”, e foi combatido durante cerca de sete horas pelos bombeiros voluntários, obrigando à transferência de todos os doentes internados para outras unidades de saúde, incluindo para fora da região, provocando um prejuízo estimado em mais de 24 milhões de euros.