A Lei de Gresham, atribuída a Sir Thomas Gresham, Conselheiro Financeiro da Rainha Isabel I de Inglaterra, permanece como um conceito revelador, mesmo em cenários além do bimetalismo. Sob um sistema monetário baseado em duas moedas com valor facial e legal idêntico — uma de ouro (boa moeda) e outra de prata (má moeda) —, a observação empírica é clara: a moeda de prata tende a dominar as transações diárias, enquanto a de ouro é entesourada. O motivo? O maior valor intrínseco do ouro faz dele um ativo a ser preservado, resultando na expressão emblemática: “a má moeda expulsa a boa moeda”.
No mundo contemporâneo, este fenómeno transcende o bimetalismo. A dinâmica cambial, particularmente entre o dólar americano, o euro e moedas de economias emergentes ou vulneráveis, oferece um paralelismo pertinente. Divisas consideradas fracas são utilizadas predominantemente como meio de pagamento, enquanto dólares e euros são acumulados como reservas, seja por sua estabilidade, seja pela expectativa de valorização futura. Esses ativos monetários, vistos como mais robustos, representam também uma confiável forma de negociação internacional.
Entretanto, a aplicação da Lei de Gresham vai além das questões monetárias e cambiais, ganhando relevância no cenário político. A ideia de que a “má moeda” expulsa a “boa moeda” também ilustra como políticas populistas e despesistas podem minar a qualidade da gestão pública. Políticos que desprezam a sustentabilidade fiscal e promovem um crescimento descontrolado da dívida pública tendem a suplantar aqueles que defendem um rigor orçamental, considerado por muitos como essencial para o futuro das regiões e nações.
O problema agrava-se quando, mesmo em partidos distintos, surgem lideranças que adotam práticas semelhantes, criando uma ilusão de opções diversas. Nesse contexto, podem ser considerados “duas faces da mesma moeda”, reforçando a percepção de que as boas ideias políticas são suprimidas por abordagens imediatistas e pouco sustentáveis.
Portanto, a Lei de Gresham não é apenas uma curiosidade histórica ou econômica; é também um alerta para os desafios contemporâneos. Em tempos de volatilidade política e econômica, a reflexão sobre suas implicações ajuda a compreender como escolhas aparentemente racionais podem levar à preservação da mediocridade em detrimento da excelência. A solução passa, inevitavelmente, por educação, fiscalização cidadã e um compromisso coletivo com a qualidade — seja ela monetária ou política.