Cerca de três dezenas de trabalhadoras da conserveira Cofaco e sindicalistas manifestaram-se hoje à porta da empresa, em Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, nos Açores, exigindo melhores condições salariais.
A concentração, iniciada pelas 09:30 locais (10:30 em Lisboa), foi organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços, Hotelaria e Turismo, Transportes e Outros Serviços dos Açores (SITACEHTT/Açores) para defender a progressão na categoria profissional de manipuladora, por um acordo de empresa digno, pelo aumento dos salários, do subsídio de alimentação e das diuturnidades e pela melhoria dos direitos laborais.
“Esta concentração vem depois de um ano intenso de luta em que as trabalhadoras da Cofaco, por várias vezes, demonstraram o seu descontentamento, nomeadamente com a progressão nas categorias profissionais”, disse à agência Lusa o presidente do SITACEHTT/Açores, Vítor Silva.
Segundo o dirigente sindical, “cerca de 85% dos trabalhadores da Cofaco entram para a empresa a ganhar o salário mínimo e passados 30, 40 e mais de 40 anos, continuam a ganhar o salário mínimo”.
Uma situação que, acrescentou, acaba por ter consequências em relação às reformas, porque “vão ser de acordo com os descontos que as pessoas fazem”.
“Depois, até do ponto de vista pessoal e profissional, trata-se de uma questão de dignidade”, disse o sindicalista, referindo que a unidade conserveira produz “das melhores marcas” em Portugal e “não é nem reconhecida a categoria profissional, nem é recompensado o trabalho do ponto de vista salarial”.
A luta já não é nova e as trabalhadoras pretendem continuar a manifestar o descontentamento com a situação que Vítor Silva considera que “deve envergonhar” a região, “até do ponto de vista político”.
“É preciso dizer que muitas destas trabalhadoras da Cofaco, mesmo tendo um posto de trabalho permanente, vivem abaixo do limiar da pobreza”, afirmou.
Lúcia Botelho, de 53 anos, que trabalha há 39 anos na empresa, disse à Lusa que aquilo que ganha “não dá para a vida”, lembrando que este ano o subsídio de alimentação foi aumentado 30 cêntimos que “não dá sequer para comprar um pão”.
Por sua vez, Graça Vieira, 50 anos, há 29 anos na Cofaco, disse que as trabalhadoras “pedem melhores condições” e que termine a negociação da revisão das carreiras profissionais, mas augura que “não há fim, porque não há boa vontade da parte da empresa”.
“Aqui não se valoriza ninguém”, lamentou a mulher, garantindo que a luta “vai continuar”.
Já Maria Fernanda Dias, de 65 anos, que trabalha há 29 anos na conserveira, lamentou que esteja a receber “sempre a mesma coisa” e que o trabalho “seja mais”.
Durante a manifestação, as trabalhadoras exibiram cartazes e tarjas com mensagens como “Mais salário! Melhores pensões!”, “Não queremos empobrecer a trabalhar”, “Merecemos um subsídio de alimentação justo”, “Merecemos que nos respeitem” e “Lutar, lutar contra quem nos quer roubar”.
Foram ainda escutadas várias palavras de ordem, como “A luta continua, agora é na rua” e “Cofaco escuta, trabalhadores estão em luta”.
A empresa conserveira de Rabo de Peixe tem mais de 200 trabalhadores e cerca de 90% são mulheres, de acordo com o SITACEHTT/Açores.
A Lusa procurou obter uma posição da empresa Cofaco sobre as reivindicações das trabalhadoras, mas sem sucesso até ao momento.