As comemorações do 25 de novembro foram, ao longo da última semana, uma fonte quase inesgotável de polémica no panorama mediático nacional, refletindo não só a complexidade do contacto histórico da Revolução dos Cravos, mas também as divisões persistentes no contexto político atual.
Este dia, que marcou de forma inegável a consolidação do regime democrático em Portugal após um período revolucionário agitado, continua a ser interpretado de formas muito distintas. A comemoração inédita na Assembleia da República foi bem demonstrativa da polarização, que gerou uma discussão acesa sobre a forma e o conteúdo das comemorações. O dia 25 de novembro é entendido por muitos como fundamental, sendo um ponto de viragem que evitou a radicalização do processo revolucionário e a ameaça de uma guerra civil.
Em 1975, a instabilidade política era evidente, com diversos blocos, militares e civis a disputar o rumo da Revolução de Abril. Para muitos, este dia representou a vitória das forças moderadas e a rejeição da radicalização comunista e socialista. Para outros, especialmente aqueles que estão mais à esquerda do espectro político, como o Partido Comunista Português, este dia foi um golpe contra os ideais revolucionários. Esta fação defende a ideia de que este dia interrompeu um processo mais profundo de transformação socialista.
Todo este debate não é apenas uma questão histórica, mas também um reflexo claro daquilo que são as tensões políticas atuais em Portugal. A forma como os portugueses se relacionam com o seu passado revolucionário tem um impacto direto sobre as suas escolhas políticas e sobre a forma como os cidadãos perspetivam o futuro do país. Ou seja, as comemorações podem ser vistas não apenas como um exercício de memória histórica, mas também como um reflexo de luta pelo poder e pela definição da identidade política nacional.
Esta data deve ser, acima de tudo, um convite à reflexão aberta ao diálogo, reconhecendo a necessidade de se construir uma memória coletiva que vá além da polarização política que se observa atualmente.
É importante pensar nos valores democráticos conquistados, como a liberdade, a pluralidade e a justiça social. Aquilo que desejo é que esta data sirva como uma oportunidade de pensar e construir o futuro de Portugal, tendo a referência de abril para promover sempre os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade e para garantir que estes continuarão a ser defendidos em todas as esferas sociais, ampliando a importância da Revolução para as gerações futuras.