Foto: GRA | Texto: Paulo Melo

Num artigo de opinião publicado hoje na Reuters, na secção “Uso do Solo & Biodiversidade | Soluções Baseadas na Natureza”, José Manuel Bolieiro, presidente do Governo dos Açores, destaca a recente aprovação da Rede de Áreas Marinhas Protegidas dos Açores (RAMPA), posicionando a região como líder na conservação do oceano a nível internacional. Bolieiro argumenta que este modelo açoriano pode servir de exemplo para outras regiões ao redor do mundo.

Enquanto os líderes mundiais se reúnem na Colômbia para a Cimeira da Biodiversidade da ONU, Bolieiro observa que “esperamos que também tomem medidas concretas para preservar as suas regiões, tal como fizemos nos Açores.”

Recentemente, foi estabelecida a maior rede de áreas marinhas protegidas (AMP) do Atlântico Norte, cobrindo 287.000 quilómetros quadrados e defendendo um dos ecossistemas mais singulares do mundo. “Este feito não é apenas um avanço ambiental — é um modelo que outras regiões podem adotar para transformar as suas economias enquanto preservam o seu património natural”, enfatiza o presidente açoriano.

Bolieiro explica no artigo de opinião, que “as águas açorianas, são habitat de uma biodiversidade extraordinária, incluindo recifes de corais de águas frias e habitats essenciais para espécies como baleias e tubarões, além de serem rota migratória para várias espécies do Atlântico”.

O líder açoriano reflete sobre a importância ecológica e económica de um oceano preservado. “Hoje, a nossa indústria de observação de baleias gera muito mais receitas do que a caça alguma vez gerou, com o turismo marinho avaliado em 80 milhões de euros por ano”, comenta, referindo o valor económico da conservação.

A experiência dos Açores demonstra ainda o impacto positivo das áreas protegidas para a pesca sustentável, como se verificou no Monte Submarino Condor, onde algumas espécies de peixe aumentaram até 400% em áreas protegidas. “Isso prova que as áreas protegidas também podem beneficiar a indústria pesqueira, fornecendo locais seguros para as espécies recuperarem as suas populações e, assim, enriquecerem as zonas de pesca”, reforça Bolieiro.

Salienta ainda que os esforços de proteção foram discutidos com pescadores, operadores turísticos, cientistas e comunidades locais. “Houve, sem dúvida, conversas difíceis sobre o sustento da pesca e os impactos económicos, mas, ao apoiar a transição da nossa indústria pesqueira para práticas sustentáveis e ao garantir que nenhuma comunidade fosse deixada para trás, encontramos um caminho viável”, acrescenta.

Bolieiro apela para que os líderes globais não adiem ações para proteger os oceanos. “Estamos a perder biodiversidade marinha a um ritmo alarmante”, alerta, enfatizando que “o impacto afeta as comunidades costeiras e a segurança alimentar, contrariando a ideia de que regiões insulares têm um impacto limitado na saúde global dos oceanos”.

O Presidente do Governo dos Açores acredita que os Açores podem inspirar outras regiões a liderarem a proteção do oceano.

“Aos meus colegas líderes reunidos em Cali: o tempo para medidas insuficientes e ações adiadas já passou. Espero que o exemplo dos Açores mostre que é possível proteger o oceano enquanto se constroem economias prósperas e sustentáveis. Não precisamos escolher entre proteção ambiental e crescimento económico.”

José Manuel Bolieiro conclui com uma mensagem inspiradora, onde diz que “Os nossos antepassados olhavam para o oceano e viam apenas recursos para explorar. Hoje, vemos um sistema vivo que nos sustenta a todos. A escolha perante os líderes mundiais é clara: agir agora para proteger o nosso oceano ou explicar às futuras gerações porque esperamos tanto tempo.”

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