Recorrentemente a pobreza é tema para notícia. A cada publicação do “Relatório Pobreza e Exclusão Social em Portugal” lá vêm os rituais do costume, mais a crítica fácil e as soluções milagrosas enjeitadas pelos malvados governantes. Tivesse a gente do poder outra sensibilidade e vontade e diferente seria o destino do inditoso povo.
Mas o assunto é verdadeiramente sério e não pode, e menos deve, ficar pelo confronto de bons e maus, pelo maniqueísmo que habitualmente se sobrepõe a qualquer tipo de discussão séria e propósito firme para se ir erradicando a pobreza.
O fenómeno, como se sabe, é estrutural, o que não significa devermos resignar perante o combate às suas origens, sobretudo ao nível das mentalidades, onde assoma a desvalorização do ensino e da formação como fatores de emancipação social, com ou sem planos formais.
Fiquemo-nos, por instantes, pelas efémeras abordagens que os media costumam fazer ao assunto e à tentação de dizer o que é mais conveniente ao consumo da notícia. Li que a pobreza aumentou nos Açores em 2023. É um facto, comparados os dados com 2022 e 2021. Fui ver o documento original e também lá está escrito o que muitos ignoraram: “Já́ em 2018 (…), a RAA se posicionava como o território com maior nível de pobreza ou exclusão social… Desde então e até ao presente, regista-se uma diminuição transversal de todos os indicadores: -14% taxa de risco de pobreza ou exclusão social; -17,4% taxa de risco de pobreza monetária; -21,9% intensidade laboral per capita muito reduzida e -11,8% privação material e social severa.”
Sintomático.