Lido mal com unanimismos. E pior ainda com silenciamentos ou mordaças. É, talvez, um defeito meu.

E outro dos grandes defeitos é dizer livremente o que penso. O meu farol é a minha consciência. Sempre foi assim e, aos 43 anos, não tenciono mudar. Fiquei, por isso, incrédulo, quando ouvi o Secretário-Geral do partido do qual sou militante de 2005 mandar recados aos “senadores internos” que exprimem posições no espaço público contrárias ao chumbo por parte do PS da proposta de Orçamento do Estado para 2025.

Não sou portador – nem quero ser! – de tão distintivo rótulo. E tenho a certeza que o camarada Pedro Nuno Santos não perde tempo a ler o que escrevo semanalmente por aqui. Aliás, até tenho dúvidas que Pedro Nuno Santos saiba da minha existência. Mas, a malvada da minha consciência, ao ouvir Pedro Nuno Santos dizer o que disse não me deixa ficar calado.

E o que disse, então, Pedro Nuno Santos? Disse e cito: “aqueles que no nosso partido têm acesso à televisão precisam mais vezes de descer do pedestal e de estar com o partido, sentir o partido, sentir os militantes. Se o fizerem vão perceber rapidamente que não há um único militante do Partido Socialista que goste de ver dirigentes do PS a fazer o jogo da direita, a fazer o jogo do Governo.” Disse, ainda, em jeito de conclusão, “não se enganem nos adversários”; “não façam o jogo da AD”; “só somos fortes quando conseguirmos agir e intervir na unidade” e pediu um PS que “fale a uma só voz publicamente”.

Estas passagens de discursos proferidos no encerramento dos congressos distritais do PS realizados no passado fim de semana, por muitas voltas que se dê, foi entendida publicamente como aquilo que é: avisos aos críticos internos.

Ora, ainda que Pedro Nuno Santos não me tivesse por alvo, e não para ser do contra, que também gosto de ser, mas sim por ser impossível não reagir publicamente a tão disparatada intervenção, aqui estou para lamentar tão infelizes momentos, os quais não se coadunam num partido como o PS.

Pedro Nuno Santos, outrora tido como máximo representante da ala esquerda do PS, parece ter-se esquecido que passou a vestir o fato de moderado, de homem do centro, e decidiu encarnar, por momentos, o papel de líder de um daqueles partidos unipessoais. Pedro Nuno Santos, pelos muitos anos que já leva de militância, sabe que o PS não é esse tipo de partidos.

O PS é um partido assente, acima de qualquer outro valor ou princípio, na Liberdade. Liberdade, principalmente, de expressão. O PS é um partido com milhares de militantes. Cada um diz o que quer, quando quer, sobre o assunto que entender. Esta liberdade não traz, ou não devia trazer, qualquer problema ou incómodo ao Secretário-geral do PS.

A opinião do “senador” Sérgio Sousa Pinto, do “senador” Vieira da Silva”, do “senador” Correia de Campos, do “senador” José Luís Carneiro ou de muitos outros “senadores” é sempre bem-vinda. O mesmo se aplica a todos os militantes e simpatizantes que entendem publicamente discordar da linha definida pelo Secretário-geral ou órgãos do partido. Linha essa, e só essa, que vincula o PS.

Querer que, essa linha ou voz, seja única é um verdadeiro atentado à história democrática do PS. História feita de pluralidade e muita divergência. No PS não há imposição de silêncios ou de leis da rolha.

Ou os líderes percebem que essa é uma linha vermelha ou os militantes, na altura certa, tratarão de dizer, livremente, de sua justiça… Para evitar que esse dia chegue rápido, aconselho uns segundos de reflexão à volta da seguinte máxima de Séneca: “Cala-te primeiro se queres que os outros se calem.”

PUB