Os taxistas dos Açores admitiram hoje que ainda há pouco interesse na mudança de viaturas a combustão para viaturas elétricas ou híbridas, devido à reduzida autonomia dos novos automóveis e por existirem poucos postos de carregamento em muitas ilhas.

“O interesse dos nossos associados na mudança para carros elétricos não é muito grande”, admitiu Gualter Silva, da Associação de Taxistas do Faial, ouvido hoje na comissão de Economia do parlamento açoriano, reunida em Ponta Delgada, a propósito de uma proposta do PS para criar medidas de incentivo à formação e à descarbonização no setor do táxi no arquipélago.

Segundo Gualter Silva, o preço das viaturas elétricas “é muito elevado” e o incentivo à aquisição deste tipo de automóveis é ainda “muito reduzido”, o que faz com que “apenas 10% dos taxistas do Faial estejam com vontade” de fazer a transição para viaturas menos poluentes.

“Além disso, não há postos de carregamento para táxis cá na ilha, nem oficinas especializadas que garantam a manutenção e a assistência para viaturas elétricas”, lembrou o representante da Associação de Taxistas do Faial, considerando que são questões que necessitam de ser salvaguardadas.

A bancada do PS na Assembleia Legislativa dos Açores propõe reforçar os incentivos à aquisição de viaturas elétricas para o setor de táxi da região e aumentar o número de postos de carregamento para estes profissionais, de forma a tornar os veículos “menos poluentes e mais sustentáveis”.

“Isto é uma mudança radical, passar de combustão para viaturas elétricas”, alertou António Feleja, da Associação de Profissionais de Táxi de Ponta Delgada, também ouvido hoje pelos deputados.

“Muitos taxistas olham ainda com desconfiança”, devido à pouca autonomia das viaturas elétricas, que não irá além dos 300/400 quilómetros e também devido à validade das baterias e ao custo elevado que os veículos ainda têm no mercado automóvel, acrescentou, considerando que o apoio de dez mil euros por viatura, atualmente previsto para os profissionais de táxis que pretendam adquirir veículos elétricos e abandonar os carros a combustão, “é muito pouco”.

Em sentido contrário, o presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores (AMRAA), Alexandre Gaudêncio, considerou a proposta socialista positiva, por permitir uma redução do número de veículos a combustão, com a consequente vantagem que isso traz, em termos ambientais.

“Tudo o que são incentivos à mobilidade elétrica, têm o aval positivo da AMRAA”, sublinhou o autarca social-democrata, alertando, no entanto, para a necessidade de ser feito, a par da alteração da legislação, um reforço do número de postos de carregamento para táxis, que ainda são poucos em todas as ilhas do arquipélago.

O presidente do Conselho de Administração da Empresa de Eletricidade dos Açores (EDA), Paulo Jorge André, rejeitou, contudo, que o número reduzido de postos de carregamento elétrico na região possa colocar em causa o objetivo de aumentar a mobilidade elétrica e reduzir a descarbonização na região.

“A EDA não é um interveniente direto neste processo, mas temos previstas parcerias com vários ‘players’, para expandir o número de postos de carregamento para viaturas elétricas nos Açores”, explicou o administrador da elétrica açoriana, igualmente ouvido na comissão de Economia.

Paulo André lembrou, no entanto, que as viaturas elétricas devem ser carregadas, preferencialmente durante a noite, através de “carregamentos lentos” que custam ao consumidor 21 cêntimos por quilowatt/hora, em vez de postos de carregamento rápido, que têm um custo de 79 cêntimos/hora.

“Do ponto de vista da EDA, a opção pelos carregamentos lentos, durante a noite, é sempre mais vantajosa”, insistiu o administrador da EDA.

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