Escrevi este texto antes de ser pública a proposta de orçamento do estado. Durante meses, a propaganda do governo lançou muita poeira e ilusões, recorrendo, inclusive, à chantagem com a instabilidade política. O objetivo era simples: aumentar a brutal transferência de verbas públicas para os donos das grandes empresas e aprofundar a injustiça fiscal que, há um ano, toda a direita criticava – e com razão! –, como sendo uma marca da governação do PS.

Muito longe desta propaganda esteve a preocupação com as famílias, com quem trabalha ou trabalhou, com quem hoje estuda e se vai apercebendo que o seu futuro é a emigração. É a incerteza nestas vidas que interessa! De quem teve de escolher cortar na comida, na água ou na luz. De quem não sabe se conseguirá pagar a casa, quando as prestações ou as rendas voltarem a subir. De quem não sabe que futuro será capaz de dar aos seus filhos. Por isso, a instabilidade política não é o nosso maior problema, mas, à sua conta, muito tem sido feito de negativo, impondo políticas que pouco dignificam a democracia. A consequência é o aumento da abstenção, da descrença nos eleitos e da desconfiança para com os governos.

O que é que se conhece do orçamento para 2025? Que aumentará o investimento público, um dos menores da Europa? Não, até porque, no Parlamento Europeu, o PS e toda a direita aceitaram reduzi-lo, num acordo feito praticamente às escondidas, quando deveriam ter explicado onde irão cortar. Será que o orçamento contribuirá para resolver a dramática crise da habitação? Não, muito pelo contrário. Reduzirá a brutal injustiça fiscal? Não, vai trazer mais fuga aos impostos, para os paraísos fiscais, e mais perdões fiscais milionários. Quem pagará impostos serão os mesmos de sempre. Será que o orçamento vai combater os salários baixos, a crise na saúde ou a falta de professores? Nada disso. Aliás, todos estes problemas estiveram longe das preocupações do PSD, do CDS, do PS ou do chega, que estão de acordo em praticamente tudo, como em breve ficará demonstrado. Quanto ao PCP, cá estará para confrontar o governo e quem lhe tem dado a mão com as consequências de um orçamento que deixará, mais um ano, os nossos futuros adiados.

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