O debate entre J. D. Vance e Tim Walz foi marcado por um evidente contraste de estilos, pelo que, na minha opinião, foi Vance que saiu favorecido.

Nos dias que antecederam o confronto de ideias entre ambos, esperava-se um duelo tenso, combativo, sobretudo considerando as posições e declarações públicas de Vance, desde que foi escolhido por Trump. Pelo contrário, Vance adotou uma postura calma, moderada, que foi notoriamente surpreendente, sobretudo para o seu adversário, Walz, que começou nervoso e hesitante, sobretudo com as questões relativamente à política externa dos EUA. É certo que foi melhorando ao longo do debate, mas nunca chegou ao nível de Vance que, com mais experiência no que toca a debates deste género, consegui articular melhor as suas ideias na defesa das suas posições, bem como do Partido Republicano.

Além disso, Vance também conseguiu associar Kamala Harris a Joe Biden, de uma forma muito eficaz, demonstrando que a candidata Democrata seguirá a linha política de Biden e que, segundo Vance, falharam no passado. Se analisarmos, por exemplo, em perspetiva comparada os ataques de Trump a Harris e, em simultâneo, os ataques de Vance a Harris, é claro que o segundo foi muito mais bem-sucedido do que o primeiro.

Quanto aos temas em discussão, o foco principal recaiu sobre a saúde, imigração e aborto. Walz defendeu um acesso mais amplo à saúde e abordou os perigos às restrições ao aborto, enquanto Vance reconheceu as dificuldades dos Republicanos em comunicar assertivamente aquilo que são as suas políticas relativamente a essa questão. De facto, esse momento de mea culpa foi notável, na medida em que demonstrou que Vance estava consciente das fraquezas do seu partido. Esta assunção de responsabilidade de Vance pode ter sido importante na captação de eleitorado indeciso.

Devo ainda destacar outro momento relevante do debate entre ambos. A certa altura Walz mencionou que o seu filho tinha testemunhado um tiroteio, sendo que Vance reagiu com um comentário de apoio e compaixão, algo pouco comum na sua retórica. Momentos como este, ajudam Vance a alterar o paradigma da sua imagem pública, no sentido de atrair eleitores mais moderados e independentes.

Finalmente, embora ambos tenham conseguido cumprir o objetivo principal de não se tornarem de algum modo passivos, foi Vance que mais terá capitalizado com este debate. Mas que impacto terá isso? Na minha perspetiva e de acordo com a história, estes debates praticamente não influenciam o resultado eleitoral, pelo que para nada mais terá servido do que uma alavancagem energética das hostes Republicanas.

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