Desculpem o trocadilho do título, mas pareceu-me ajustado às contradições entre o discurso e a prática dos governos regional e da república. Vem isto a propósito do ataque ao nosso direito à mobilidade da semana passada. Para quem achar que o teto imposto ao subsídio das passagens aéreas é razoável, ou que é um mal menor, desengane-se. Primeiro, porque os direitos não se negoceiam, mas, para a direita, pelos vistos, vendem-se. Segundo, porque nada impede que este teto baixe no futuro, com as desculpas esfarrapadas do costume.

São públicas as divergências do PCP para com a política de transportes aéreos. Está à vista o resultado de decisões políticas que condicionam negativamente o nosso desenvolvimento económico e social. Há muito que o PCP afirma ser necessário defender a SATA e a TAP públicas e, sobretudo, pô-las, verdadeiramente, ao serviço do País e da Região, e não de uns quaisquer interesses privados!

Ora, a decisão do governo da república é a que melhor serve os mercados e, consequentemente, é a que pior serve aos Açorianos e ao País, bem como à SATA e à TAP, enquanto empresas públicas. Como sabemos, PSD, CDS, IL e chega não escondem a cegueira ideológica com que defendem o mercado livre para as grandes fortunas – nos dias de hoje, não há outro! Já o PS, mostra-se mais envergonhado, mas a sua política para a saúde, a habitação, a SATA e a TAP, entre tantos outros exemplos, mostra bem a sua fé nos mercados.

É, no mínimo, curiosa a suavização das críticas do governo regional para com o novo governo da república – sobretudo quando estamos perante decisões mais prejudiciais para os Açorianos. Isto só mostra que aquela velha frase “o meu partido é os Açores” afinal, é um discurso vazio de conteúdo… E seria útil saber-se quem representou os Açores no grupo de trabalho sobre o subsídio de mobilidade e, sobretudo, o que lá defendeu. É que isto do governo regional se afirmar campeão da transparência e da competência tem de estar apoiado na sua prática política. Mas, atrapalhado pelas suas incoerências, a cada dia que passa aumenta o risco de o governo regional morrer pela sua própria boca…

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