Agricultores dos Açores estão a investir na produção de cânhamo, tendo vários produtores aderido ao projeto este ano em quatro terrenos na ilha de São Miguel, indo outros avançar no Pico e na Terceira, segundo a Confraria Cannabis.
Em declarações à Lusa, a presidente da Assembleia da Confraria Internacional Cannabis Portugal, Graça Castanho, contou que entre abril e julho, após obtenção do licenciamento por parte da DGAV – Direção-Geral da Alimentação e Veterinária, um “grupo pioneiro de agricultores procedeu à sementeira de cânhamo em quatro terrenos da ilha de São Miguel”.
“Outros dois licenciamentos, respetivamente para o Pico e Terceira, foram concedidos”, mas “tão tardiamente que não foi possível semear o cânhamo no corrente ano”, acrescentou.
O cânhamo é uma planta da espécie ‘cannabis sativa’, utilizada nas indústrias têxtil e cosmética, na alimentação, produção de papel e na construção.
Segundo Graça Castanho, uma vez que a espécie “é de rápido crescimento [três, quatro meses], todo o cânhamo produzido, neste ano zero, numa perspetiva de análise do comportamento de diferentes variedades em várias geografias da ilha, já foi recolhido, de acordo com o tempo previsto”.
Os produtores encontram-se, entretanto, a “fazer experiências com a matéria-prima obtida”, nomeadamente óleo de sementes, queijos vegan, chás, pão, farinhas, cosméticos, detergentes, comidas, bebidas, velas, areia para gatos, comida para gado e outros animais, peças de artesanato, materiais de construção, fibras para diferentes fins, ainda de acordo com a responsável.
“Todos os produtos passarão por um processo de testagem e respetiva certificação até chegar ao cliente final”, assegurou a presidente da Assembleia da Confraria Internacional Cannabis Portugal.
Questionada se a adesão dos produtores locais ao projeto está a ser satisfatória, a também docente universitária referiu que, “com o conhecimento dos benefícios e potencialidades do cânhamo industrial e da canábis medicinal têm surgido cada vez mais agricultores, produtores, donos de terra, ‘startups’, empresas e indústrias interessadas no cultivo e seu processamento”.
Graça Castanho prevê que, em 2025, o número de pedidos de licenciamentos para projetos de cânhamo industrial e canábis medicinal “aumente substancialmente não só em São Miguel, mas também noutras ilhas.
A responsável revelou ainda que o objetivo é que “mais produtores se envolvam no cultivo para que seja possível criar novas indústrias nas áreas da sustentabilidade, setor agroalimentar e bem-estar”.
“Também é nossa prioridade acompanhar campos experimentais com os departamentos próprios do Governo dos Açores. Desenvolver investigação, com um consórcio internacional e a Universidade dos Açores, que nos permita conhecer melhor as espécies para determinados fins e encontrar uma semente que se adeque às especificidades dos terrenos das ilhas, clima, vento, exposição solar, etc”, salientou.
A Confraria Cannabis quer que os Açores tenham uma semente certificada europeia “para venda noutros mercados e que faça face à eventual impossibilidade de compra noutros países estrangeiros devido a intempéries e outras adversidades”.
Graça Castanho considerou ainda que “urge pensar na autosuficiência destas ilhas em termos de sementes de cânhamo”, uma vez que este, “segundo os maiores e mais importantes organismos mundiais, como a ONU [Organização das Nações Unidas], e muita literatura da União Europeia, Banco Mundial, FMI [Fundo Monetário Internacional], OMS [Organização Mundial de Saúde], etc., é uma superplanta com as fibras mais resistentes do mundo, a maior fonte de proteína vegetal e de material para construção civil”, entre outros.
Ainda de acordo com a responsável, existem 25.000 produtos e subprodutos partir do cânhamo, uma “ planta da sustentabilidade, porquanto regenera e descontamina os solos, despolui as águas e é a maior captadora de CO2 da natureza”.
Na sexta-feira, a Confraria Internacional Cannabis Portugal vai organizar a IV CannAzores, que irá decorrer na Associação Agrícola de São Miguel, nos Açores.