A Companhia das Ilhas, uma editora fundada em maio de 2011 na vila das Lajes do Pico, nos Açores, deverá encerrar a sua livraria até ao final do ano, por alegada “ausência de apoios” por parte do Governo Regional.

“Nós temos entre sete a oito mil euros de verbas a receber de livros escolares e de publicações enviadas para a Feira do Livro de Lisboa, que ainda não nos foram pagas”, lamentou Carlos Alberto Machado, um dos sócios fundadores da editora, em declarações à agência Lusa, lamentando que o Governo dos Açores não apoie, convenientemente, a cultura no arquipélago.

No seu entender, o executivo açoriano “devia criar mais incentivos” à aquisição de livros, numa região com “baixos níveis de leitura”, e devia também criar mais “estímulos à cultura”, em vez de “desbaratar” um setor que tem vindo a “deteriorar-se nos últimos cinco a seis anos”.

“Nós temos vindo a defrontar-nos com uma ausência quase absoluta de apoios”, insistiu Carlos Machado, lembrando que já advertiu a Direção Regional de Assuntos Culturais e o Município das Lajes do Pico, para o “risco” do encerramento da livraria da Companhia das Ilhas, mas que, até agora, “ninguém deu um passo no sentido de alterar esta situação”.

O gabinete da secretária regional da Educação, Cultura e Desporto, Sofia Ribeiro, nega, no entanto, existirem quaisquer dívidas do Governo à editora das Lajes do Pico, no que se refere a “manuais escolares”, garantindo que a última fatura que recebeu, relativa a dezembro de 2023, “foi paga em janeiro deste ano”.

O sócio-gerente da editora açoriana alega que essa fatura, a que o Governo se refere, é relativa aos manuais fornecidos no ano letivo anterior e que os montantes em dívida atuais dizem respeito aos manuais “deste ano letivo”.

“Os manuais a que me refiro, e dos quais foi emitida fatura, são os do atual ano letivo, que foram disponibilizados no passado mês de agosto, e que ainda não foram pagos”, insistiu Carlos Machado.

Também a diretora regional dos Assuntos Culturais, Sandra Garcia, garante “não existirem atrasos” em relação às publicações fornecidas pela Companhia das Ilhas para a Feira do Livro de Lisboa, adiantando que as editoras já sabem que “o pagamento não é automático”.

“As editoras estão habituadas a este procedimento. A Feira foi em junho, mas só em julho é que os livros que não foram vendidos nos foram devolvidos. Depois, tivemos de fazer um levantamento dos livros fornecidos pelas 18 editoras da região e só agora estamos a tratar do pagamento”, explicou Sandra Garcia, lembrando que “tudo isto leva algum tempo”.

A diretora regional dos Assuntos Culturais estranha também as críticas sobre a alegada “ausência de apoios” por parte do Governo, adiantando que a Companhia das Ilhas “não se tem candidatado” aos apoios às atividades culturais, nos últimos anos.

“Desde 2019 que não o faz. Portanto, se não o faz, não pode receber”, justificou Sandra Garcia.

Mas o sócio-gerente da editora das Lajes do Pico entende que o processo de apoio definido pela Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) é “completamente irracional e imensamente moroso”: “Nós chegávamos a levar um ano e meio para receber 30% do custo da publicação de um livro”.

O responsável pela Companhia das Ilhas, alega também que a falta de recursos financeiros da editora resulta de estar situada “longe dos principais centros urbanos”, numa vila onde, só no verão, gera lucros suficientes para manter uma livraria de portas abertas.

“A maioria dos livros que aqui temos é comprada por nós, mas só nos meses de verão, com o turismo, é que vendemos alguma coisa. Nos restantes meses, não fazemos receitas para pagar a renda, sequer”, admite Carlos Machado, que se queixa de ter já “três meses de salários em atraso” aos dois sócios que compõem a empresa proprietária da livraria e da editora.

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