De acordo com o especialista em questões ambientais, este cenário deve-se “a uma persistência do anticiclone dos Açores, bem localizado no Atlântico”, o que “tem condicionado o estado do tempo”.

Brito de Azevedo refere que “a anomalia da temperatura do ar entre os 1,5 e 2,5 graus” deve-se “particularmente devido a uma outra anomalia, que é a temperatura da água do mar à superfície, que foi, particularmente no fim de julho e início de agosto, muito significativa e que deve preocupar todos os setores que dependem da economia”.

“Essa anomalia da temperatura na superfície do mar é que dá, de facto, um sinal mais preocupante. O Atlântico central aqueceu. Já em 2023, as temperaturas à superfície foram as mais elevadas de sempre e, este ano, prolongou-se esse aquecimento particularmente nos primeiros meses do ano”, explica o especialista.

Brito de Azevedo salvaguarda que, “curiosamente, a partir de julho, há a tendência de algum arrefecimento, muito embora se mantenha uma bolsa de água quente nesta zona dos Açores, do Atlântico central, que fez aumentar a temperatura do ar também”.

O especialista refere que esta situação arrasta “alguma imprevisibilidade em termos de futuro, particularmente porque o mar, deixando de regular a temperatura do ar, como acontece na termorregulação, estando mais quente, pode trazer alterações climáticas significativas” com impacto nos ecossistemas marinhos e na composição da fauna e flora marinha.

“Se é uma situação para se manter ou não, é um aspeto que a climatologia ainda não consegue responder”, refere o cientista, que ressalva que a anomalia térmica “influencia a geração e trajeto das tempestades tropicais”.

Segundo Brito de Azevedo, em inícios de agosto, tudo indicava que “seria uma época bastante complicada em termos de tempestades tropicais, mas a partir de meados de agosto houve um arrefecimento da temperatura da água do mar nas zonas equatoriais, onde começam os furacões”.

Quanto às alterações climáticas, o especialista afirmou que “já se fazem sentir” e que se vai “traduzir mais pela irregularidade climática”, sendo que “a sazonalidade que os Açores estavam habituados tem-se vindo a perder quer de inverno, quer de verão”.

PUB