O presidente da Federação Agrícola dos Açores afirmou hoje que a seca no arquipélago é “transversal” a todas as ilhas, tratando-se em alguns casos de uma situação “muito preocupante” sobretudo devido à falta de água para os animais.

“A situação da seca é muito preocupante em algumas ilhas. Este ano é um ano atípico, porque, embora a seca começasse mais tarde, começa a ter efeito em algumas produções, mais em algumas ilhas do que em outras”, declarou Jorge Rita à agência Lusa.

O presidente da Federação Agrícola dos Açores adiantou que está a ser feito o levantamento dos custos e prejuízos associados à seca com base nas informações prestadas pelas várias organizações agrícolas das ilhas.

“O que nos deixa aqui com alguma preocupação é a falta de água para o abastecimento dos animais e esta situação pode ainda ser mais complicada. Os alimentos, já sabemos, são já irrecuperáveis, mas a falta de água para os animais também pode ser uma situação complexa”, realçou.

Segundo Jorge Rita, apesar de a situação ser generalizada no arquipélago, existe um “foco maior” no Pico, Santa Maria, Graciosa, São Jorge e em “algumas zonas dramáticas” de São Miguel.

“Ao fim e ao cabo, todas as ilhas apanham um pouco, embora umas mais do que outras, mas é transversal. Vamos analisar para perceber o que será melhor para os agricultores”, assinalou.

O representante, que também preside à Associação Agrícola de São Miguel, falava após uma visita do secretário regional da Agricultura e Alimentação ao campo de experimentação de milho da responsabilidade daquela associação micaelense.

Naquele campo, indicou, procura-se perceber quais as variedades de milho forrageiro mais resistentes à seca, já que esta vai ter “muitas implicações” na produção daquele “alimento indispensável para a pecuária”.

“Por parte dos agricultores, o investimento em milho forrageiro por ano é para cima de 20 milhões de euros, mas o valor comercial do milho na sua totalidade é entre 30 e 40 milhões de euros a nível Açores”, reforçou.

O dirigente defendeu que é preciso um trabalho conjunto entre associações, empresas, Governo Regional e universidades para assegurar que o setor agrícola fique “preparado para secas mais prolongadas”.

“É importante que o meio científico se associe a essas iniciativas e que o Governo Regional dote as universidades de mecanismos para que se pesquise, juntamente com as empresas, de forma a termos cada vez melhores sementes”, defendeu.

E concluiu: “Nos tempos que vêm aí, não sabemos o que vai acontecer. As alterações climáticas são uma evidência em todo o mundo. Nada como nós, de forma proativa, começarmos a preparar essa situação.”

Os produtores agropecuários da ilha de Santa Maria, nos Açores, estão a alimentar os animais com silagem e feno devido à falta de pastagem nos campos por causa do tempo seco, disse à Lusa na quarta-feira a Cooperativa de Produtores Agropecuários da ilha.

Na sexta-feira, a Associação Terra Verde adiantou que está a calcular o impacto da seca nas produções agrícolas, que chega a atingir 70% em algumas culturas, para entregar ao Governo dos Açores.

Os Açores estiveram este mês vários dias sob aviso meteorológico amarelo (o menos grave de uma escala de três) devido ao tempo quente, com temperaturas máximas de 29 e 30 graus Celsius e mínimas entre 21 e 23 graus, pouco habituais nas nove ilhas.

 

PUB