Passadas quase duas semanas desde esta edição dos Jogos Olímpicos, é boa altura para rever algumas coisas… Será útil ter presente a última entrevista do recentemente falecido presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, que se referiu ao olimpismo, na atualidade, como “um negócio puro e duro, vendido aos patrocinadores”. Denunciou também a conivência com o massacre dos Palestinianos, concretizado por Israel. Nesta entrevista, há quase um mês, questionou se “não está a acontecer nada na Palestina” e denunciou a hipocrisia de quem esquece que os israelitas “criaram um grupo terrorista chamado Hamas e o armaram”.

De facto, estamos longe do espírito olímpico: da promoção da Paz, da Cooperação, do Desporto e dos seus Valores. Em vez disso, há muito que os Jogos são vistos como um instrumento para impor e manter o domínio das maiores potências mundiais. Se houvesse coerência, não haveria participação norte americana durante a invasão e o bombardeamento do Iraque, do Afeganistão, da Síria, da Líbia, do Vietname, da Jugoslávia, entre tantos outros países. Israel nunca teria participado, pela ocupação e massacre da Palestina. O mesmo vale para França, Canadá, Marrocos, Arábia Saudita, entre tantos outros, que, na sua história recente, invadiram e ocuparam, contra o direito internacional, diversos países, bombardeando os direitos humanos. Incluindo na edição que agora terminou, na qual os seus atletas conquistaram mais de 200 medalhas!

Mas tudo isto fica longe do ruído mediático, que prefere distrações como a promovida pela extrema-direita, sobre a legitimidade da atleta argelina Imane Khelif, medalha de ouro no boxe feminino. Esta polémica já está esclarecida pelos factos e pela ciência. A sua suposta vantagem biológica já foi desmentida pelo seu histórico desportivo. Quanto à de atletas excecionais, como Michael Phelps, nunca é questionada! Isto, apesar de o seu metabolismo e estrutura física lhes dar uma vantagem significativa… Não questiono o mérito de Phelps nem de outros atletas admiráveis. Apenas faço notar a hipocrisia e a dualidade de critérios!

Quanto ao espírito olímpico, fica longe de tudo isto. A maioria dos atletas mostra o melhor da competição no desporto, inclusive com provas de uma humanidade exemplar. Superam-se e superam os limites. E é por eles, porque dão corpo ao valor do esforço, do exemplo, de valores éticos universais, que os Jogos Olímpicos continuam a valer a pena!

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