Os projetos de preservação do priolo permitiram recuperar mais de 350 hectares da floresta laurissilva e 99 hectares de turfeiras nos Açores e estabilizar a população daquela ave endémica da ilha de São Miguel nos mil animais.

“Nos últimos anos temos verificado uma estabilidade no tamanho da população, o que é um bom sinal. Não é um crescimento enorme, mas é um bom sinal. É sinal de saúde da população que está a responder a todo o trabalho feito na recuperação do habitat”, adianta à agência Lusa a coordenadora nos Açores da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Azucena de la Cruz Martin.

O primeiro projeto da SPEA para proteger o priolo, designado LIFE Priolo, iniciou-se em outubro de 2003, quando aquela ave, que vive nos concelhos do Nordeste e Povoação (zona oriental da ilha), estava classificada como “criticamente em perigo de extinção”.

Desde então, as várias iniciativas permitiram alterar o estado de conservação do priolo para “vulnerável” (obtido em 2016), a classificação mais baixa para espécies em risco de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.

“É o mais baixo dos estatutos de ameaça. Significa que a população já está num estado muito melhor do que há 20 anos quando começaram os trabalhos da SPEA, altura em que o priolo estava criticamente ameaçado de extinção. Era a situação pior possível”, realça Azucena de la Cruz Martin.

Em 2023 foram identificados 1.061 priolos, de acordo com a mais recente edição do Atlas do Priolo, iniciativa anual em que voluntários se dedicam a contar o número de exemplares da espécie.

O trabalho que permitiu estabilizar a população da ave endémica nos mil animais consiste na recuperação do habitat através de replantação da laurissilva originária das ilhas açorianas.

“A floresta laurissilva, que originalmente cobria todas as ilhas dos Açores, desde o início do povoamento que foi sendo cortada, utilizada para madeira ou ficando degradada e substituída por pastagens e por outros tipos de floresta plantada”, explica.

Além da remoção de várias invasoras (como a conteira, a clethra ou o incenso), foram plantadas mais de 200.000 plantas endémicas e nativas (que foram cultivadas em viveiros), o que permitiu recuperar mais de 350 hectares de floresta laurissilva e 99 hectares de turfeiras.

“O trabalho consiste, essencialmente, na remoção das espécies invasoras que vieram de fora e começaram a ocupar o espaço das plantas que existiam e que serviam de alimento ao priolo”, assinala a também investigadora em Ciências do Ambiente.

A coordenadora nega que exista uma devastação do habitat do priolo no Pico da Vara (Nordeste), afirmando que o corte das criptomérias naquela zona é um “processo necessário para recuperar a saúde florestal da área” devido ao fim de vida das árvores plantadas nos anos 60 e 70 do século passado.

“Quando as criptomérias são cortadas, inclui toda a área. Para quem vê pode parecer que está a ser feito de maneira muito rápida, mas é assim que tem de ser feito. Os planos de gestão florestal até vão incluir mais áreas com nativas para servir de corredor para o priolo”, explica.

Destacando que o corte das árvores é um trabalho da Direção Regional dos Recursos Florestais, Azucena de La Cruz realça que no final do processo a “expectativa é que o ambiente seja melhor para o priolo”.

“É um processo que é necessário acontecer. Em muitos casos, após o corte, estão a ser selecionadas áreas de linha de água e de mais declive para serem transformadas em áreas de conservação e serem plantadas com plantas nativas ou folhosas”, reforça.

Em 30 de janeiro, durante a campanha para as eleições regionais, o BE/Açores denunciou o “desmatamento sem qualquer controlo” na zona de habitat do priolo, uma população que, segundo por um empresário local de turismo da natureza, está a diminuir “drasticamente”, alegação rejeitada pela SPEA.

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