Alexandra Manes

Num recente editorial para o Diário dos Açores, Osvaldo Cabral chamou a atenção do arquipélago para os sucessivos tropeços de que José Manuel Bolieiro e o seu executivo foram responsáveis, nos parcos meses que passaram desde que tomou posse o atual Governo Regional.

Foi no dia em que passavam cento e cinquenta dias de trabalho, e os líderes, estando já de férias, foram chamados a ficar mais uns dias para lá, longe, que a coisa parece que funciona melhor sem elas e sem eles.

A SATA, a inflação, saúde e educação. Alguns dos muitos problemas por resolver, que em vez de ficarem iguais ou ligeiramente melhores, só pioraram. Podia ser uma música de Sérgio Godinho, mas é a infeliz tristeza da degradação desta região.

Cento e cinquenta dias de pagamentos em atrasos. Foi mais ou menos assim que foi noticiada a catadupa de reclamações que se fazem sentir por várias entidades e profissões que se sentem ignoradas, na melhor das hipóteses, ou perseguidas, nas hipóteses mais realistas.

Os bombeiros, que heroicamente vão enfrentando cada vez mais incêndios, num verão de maior calor de sempre e com erros humanos e degradação de estruturas em crescendo. Compromissos assumidos com discursos populistas, com milhares de euros por cumprir. Os enfermeiros, que receberam palmas e elogios durante os meses da pandemia, relegados para um plano obscuro, onde a senhora Secretária parece olhar de cima para baixo com desdém, incapaz de satisfazer o que tinha sido prometido. As e os auxiliares que desesperam pela publicação da carreira Técnico Auxiliar de Saúde.

Três anos de pescas em atraso, com três anos de gritos e choros das pessoas que vivem e amam o mar, sem solução à vista. Uma viagem interminável pela comunicação social, sem resultados que não sejam soluços, migalhas e alegadas ameaças a quem não obedecer. Até os hotéis e restaurantes não aguentam mais!

Há um problema estrutural neste governo. Goste-se menos ou mais dos anteriores executivos, das suas medidas e ações, não se pode negar a existência de estratégias coesas. Fosse do tempo de Mota Amaral, de Carlos César ou Vasco Cordeiro, o que é certo é que havia visão. Mais ou menos ao nosso gosto, mas ela estava lá. Aqui, o que parece haver é uma tentativa de se agarrar ao comboio, que ele viaja depressa, e o melhor é estar dentro dele, antes que alguém nos venha empurrar. É querer o poder para ter o poder. Não me parece que seja causa ou missão pública.

Tomemos outro atraso como exemplo. Um atraso que me diz muito, pessoalmente. O da cultura. Os apoios atribuídos todos os anos continuam a não vir.

Alguns de 2023 só entraram em 2024, e os de agora ainda não chegaram pelo que podemos depreender que talvez só em janeiro ou fevereiro de 2025.

Preparam-se trabalhos, avançam festivais, erguem-se bandeiras pelos Açores. E a senhora Secretária da cultura, que já perdeu o “C” maiúsculo, faz o quê? Há sequer Secretária? E diretora regional? Não se ouve, não se vê, não se sabe.

Sabemos que estamos em agosto, a mais de metade do ano. Que os agentes culturais continuam a navegar à bolina. Há bem pouco tempo, um festival de artes levou o arquipélago à comunicação nacional, para falar bem dos Açores. Não se esqueçam que ultimamente quando se fala das nossas ilhas é para mencionar sismos, mau tempo e medidas ditatoriais para com as nossas crianças mais frágeis.

A cultura continua a ser a nossa ponta de lança, de onde enviamos Vitorinos, Natálias, Anteros e Lacerdas. Mas esses não viviam nos dias que correm. Um escritor como Vitorino Nemésio, um músico como Francisco de Lacerda ou até mesmo, mais recentemente, uma atriz como Lúcia Moniz, não se aguentariam neste regime de pobreza, de dinheiro, mas, principalmente, de espírito. Renegam-se as nossas forças principais para segundo plano.

Não há visão. Não há apoio.

Não há nada para ninguém, como diria o Mário Mata.

Vamos embora Manel, que o melhor era que essas gentes ficassem de férias, de vez.

PUB