Um manifesto pelo futuro dos Açores, subscrito por mais de 700 pessoas, teve hoje o “apoio integral” do representante da República para a região, segundo os autores do documento, recebidos no Solar da Madre Deus, em Angra do Heroísmo.

“Saímos daqui muito satisfeitos, porque o senhor embaixador Pedro Catarino manifestou a sua solidariedade institucional e pessoal para com a nossa intervenção, manifestou o seu apoio integral a este manifesto e disponibilizou-se para colaborar em ações que venhamos a desenvolver no futuro”, disse o escritor Joel Neto, em declarações aos jornalistas, no final da reunião, na ilha Terceira.

O porta-voz do manifesto, que surgiu em janeiro deste ano e é subscrito por 21 profissionais de várias áreas (professores universitários, escritores, jornalistas e artistas), pretende alertar os órgãos do Governo da República para o mau desempenho dos Açores, em comparação com o restante território nacional, “em algumas dimensões que dizem respeito ao desenvolvimento humano”.

“Nós lideramos todos os ‘rankings’ de subdesenvolvimento humano a nível nacional e alguns deles a nível europeu. Isto é resultado de um modelo de desenvolvimento que esqueceu os mais pobres ou que, na verdade, afastou os mais pobres e continua a afastar nos dias de hoje, para as margens da sociedade”, lamentou Joel Neto.

O escritor considera mesmo que, numa altura em que se aproximam as comemorações dos 50 anos da autonomia açoriana (previstas para 2025), é necessário fazer uma reflexão sobre a forma como essa autonomia tem sido exercida no arquipélago.

“A autonomia foi uma importantíssima expressão da chegada da democracia a Portugal, aqui nos Açores. É um instrumento fundamental para a emancipação destas ilhas, mas é preciso fazer uma reflexão, sobre como é que ela foi exercida ao longo destes primeiros 50 anos”, insistiu, preocupado com o futuro da sociedade açoriana.

No seu entender, a autonomia dos Açores “não foi totalmente bem exercida” e, nalguns aspetos, foi “particularmente mal exercida”, situação que afetou, de forma direta, um quinto da população do arquipélago, ou seja, cerca de 50 mil pessoas.

“A nossa preocupação é de fundo, tem a ver com um desvio que houve na gestão da coisa pública, na gestão do bem comum nos Açores, que é resultado de um divórcio, absolutamente inapelável, das elites, em relação a essa preocupação da equidade e da justiça”, apontou o escritor, lembrando que esta luta, à qual já se associaram entretanto mais de 700 pessoas ‘online’, “é uma corrida de fundo” e “não um ‘sprint’”.

Além de Joel Neto, estiveram presentes na audiência com o representante da República para os Açores os professores José Henrique Ornelas e Maria João Vargas Moniz, para tentar sensibilizar Pedro Catarino para “os devastadores índices de desenvolvimento humano” nas ilhas.

A excessiva institucionalização dos açorianos, a “obsessão” pelo investimento no ensino secundário em detrimento de outros níveis de ensino e a contínua construção de bairros sociais nos Açores são algumas das “nefastas expressões” do nível de desenvolvimento a que a região chegou, que devem ser repensadas e alteradas, no entender dos subscritores.

 

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