O tema desta semana é absolutamente incontornável. Não havia qualquer outro tema, no panorama político nacional ou internacional que se sobrepusesse, quer a nível de impacto mediático, a nível político, ou outro, ao caso da tentativa de assassinato a Donald Trump. Ao longo dos últimos meses, tenho vindo a alertar para o aumento exponencial da crispação entre blocos ideológicos distintos, no que aos partidos políticos diz respeito. De facto, a polarização de opinião e de posicionamento tem vindo a crescer de forma absolutamente inquietante, à escala global.

Desde que Donald Trump venceu as eleições nos Estados Unidos da América, no contexto da sociedade estado-unidense, que o extremar de posições se tem evidenciado. O discurso inflamado do Ex-presidente dos Estados Unidos da América funcionou como o rastilho perfeito para a proliferação de discursos xenófobos, racistas e que atentam muitas vezes aos direitos humanos. Creio não ser descabido dizer que Trump representa um retrocesso civilizacional, que pode e certamente tem repercussões à escala mundial, bastando olhar, a título de exemplo, para a situação política no Brasil.

Mas voltemos ao ponto de partida desta crónica: o atentado que podia ter resultado na morte de Donald Trump. Antes de mais, devo condenar veementemente qualquer tipo de ato de violência política. Não há nada que justifique um comportamento tão vil quanto este. Mais consternador é quando se verifica que isto aconteceu nos Estados Unidos, em pleno século XXI, num dos países mais desenvolvidos do mundo e, certamente, aquele que tem maior domínio militar na atualidade. O que aconteceu foi uma vergonha não só no âmbito da Defesa e Segurança dos Estados Unidos da América, mas também numa perspetiva da própria democracia americana.

Ora bem, ninguém tem dúvidas que o atentado desta semana vai beneficiar de forma decisiva a eleição de Donald Trump. Na minha perspetiva, este atentado garantiu-lhe a eleição presidencial. Se até aqui Trump era visto como um vilão tal como já descrevi anteriormente nesta crónica, transforma-se agora numa espécie de mártir político e numa vítima. A verdade é que garantiu uma forte onda de simpatia popular, que ficou bem explanada no início da Convenção do Partido Republicano, mas que se alarga a todo o país, bem como à conjuntura internacional.

Além disso, este acontecimento provocou grandes constrangimentos no seio do Partido Democrata, na medida em que, estando o partido já condicionado pela fragilidade incontestável de Joe Biden, bem como pelas divisões internas no que a uma possível desistência diz respeito, agora, têm uma dificuldade extra: dividir o espaço mediático com alguém que, por via daquilo que representa e ao cargo que se candidata, quase morreu.

A verdade é que este caso muda tudo. Até a forma e tom de Trump para esta campanha serão objeto de reformulação. Iremos, certamente, ver o candidato Republicano apelar à união, à defesa dos seus ideais, num momento em que contará, certamente, com o apoio da sociedade civil. Trump foi sempre conhecido por ter elevado a violência política a níveis extremos e sempre se comportou como um incendiário da opinião pública. Agora, tudo isso mudou. Os Democratas, terão de ser muito hábeis e inteligentes se querem ter alguma hipótese de lutar pelo resultado das eleições. Não é uma missão impossível ao jeito de Tom Cruise, mas quase.

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