Dizem que uma mentira dita muitas vezes, pode tornar-se verdade, como uma semente que se planta, cria raiz, mas a pergunta que fica no ar é: será que cresce?
A ilha do Pico, chamada de “ilha do futuro”, há pelo menos uma década, é um lugar onde a expectativa pelo que está por vir se entrelaça com uma realidade de promessas não cumpridas. O conceito de futuro evoca imagens de progresso, inovação e prosperidade, mas, para os habitantes e admiradores desta ilha, esse futuro idealizado muitas vezes parece eternamente distante.
As eleições legislativas regionais de 2016, 2020 e 2024 continuam a trazer à tona os mesmos problemas, os mesmos manifestos, promessas não cumpridas, que têm prejudicado significativamente o desenvolvimento sustentável da Ilha do Pico e do Triângulo. Estas promessas, apresentadas ora pelo PS ora pelo PSD, têm sido consistentemente ignoradas, privando a ilha de um crescimento económico sustentável, afectando sectores cruciais como a agricultura, a pesca, a viticultura e o turismo.
Uma das promessas mais gritantes e negligenciadas é o aumento da pista do aeroporto do Pico. Esta melhoria é essencial para garantir que a ilha possa receber aviões de maior porte, com segurança, e aumentar a frequência de voos, facilitando o fluxo de pessoas e mercadorias. A falta dessa expansão tem limitado o desenvolvimento económico e social não só do Pico, mas do Triângulo – um erro político não assumir a centralidade do Pico no Triângulo.
Durante a minha participação nas legislativas de 2024, como candidata do Pico pelo Bloco de Esquerda, alertei no debate transmitido na RTP-Açores sobre o perigo da privatização da SATA Internacional/Azores Airlines para o Pico e Faial correlacionando com o aumento da pista do aeroporto do Pico. Argumentei que outras companhias aéreas dificilmente se interessariam em operar rotas deficitárias, entre o continente e estas ilhas, o que se confirmou recentemente. Apesar de a SATA Internacional/Azores Airlines ainda não ter sido privatizada, o recente concurso para as Obrigações de Serviço Público (OSP) ficou deserto nas rotas entre o continente e as ilhas do Pico, Faial e Santa Maria. Isso só reforça a necessidade de manter a SATA Internacional/Azores Airlnes sob controle público (não politizado) para garantir a continuidade do serviço aéreo essencial para estas ilhas.
Outro ponto de grande frustração é a falta de transparência e de resultados concretos do estudo encomendado pelo actual governo sobre o aumento da pista do aeroporto do Pico. Este estudo, de elevado custo para a região, tinha um prazo de conclusão para novembro de 2023, mas até agora, nada foi divulgado. É inaceitável que uma infraestrutura tão crucial para o desenvolvimento da ilha e do Triângulo continue neste marasmo. Ao contrário da maioria dos aeroportos da região, concessionados a privados, o aeroporto do Pico é uma infraestrutura pública pertença do Governo Regional dos Açores. Portanto, qualquer intervenção depende unicamente da determinação política dos nossos líderes. Ou seja, de vontade.
Pergunto-me se nas próximas eleições regionais o aumento da pista do aeroporto do Pico será novamente tema de debate ou se será mais uma vez esquecido. Só o futuro o dirá. É esperar para ver. Se o passado é um indicador, temos motivos para estar cépticos. É essencial que continuemos a pressionar os deputados, em representação do Pico, para que finalmente cumpram as promessas feitas e permitam que a Ilha do Pico cumpra finalmente o seu futuro