Alexandra Manes

Num arquipélago de nove bairros e muitas discordâncias, é preciso trabalhar de forma ativa e tecnicamente balizada para conseguir promover soluções que sirvam para juntar e que combatam as divisões ativas. A um partido, esteja ele no poder ou na oposição, não deve caber a responsabilidade de dividir para tentar reinar. Agregar pessoas e identidades é tarefa difícil, mas fundamental, entre todas as funções de uma pessoa com responsabilidades políticas.

Para os Açores, essa agregação foi uma miragem, que eventualmente ainda se mantém.

Mesmo que aos olhos de quem nos visita possamos parecer uma nação unida, a verdade é que, frequentemente, encontramos um espírito de bairrismo bastante vivo entre nós.

Se há ponto onde as nossas diferenças poderiam ser esbatidas, esse ponto deveria ser a nossa identidade cultural. Perguntem a uma habitante das Flores ou a um morador em Vila do Porto, e a resposta não será muito diferente: o que faz de nós açorianas e açorianos é a nossa cultura.

Como tal, a criação de uma política cultural autonómica foi tarefa essencial para a sobrevivência das últimas décadas. Governos de direita e de esquerda trabalharam no sentido de traçar linhas estratégicas com objetivos teoricamente consensuais. Podemos discordar em muita coisa, mas, até há poucos anos, a cultura era algo que unia o arquipélago. Defender artistas e valorizar património. Honrar o passado e perspetivar o futuro. Era assim.

Para os Açores, exigiram-se políticas culturais assertivas, competentes e eficientes, capazes de espelhar os 250 mil habitantes, mas também os 2,5 milhões espalhados por esses mundos afora. Somente nessa escala poderá haver legitimidade para se obter os recursos aparentemente em falta, para construir novos edifícios intelectuais e culturais, e requalificar as tragédias de tempos recentes.

Criar as condições para que tal aconteça é oq ue se espera, e é somente isso que se exige, das políticas culturais implementadas poru m Governo Regional. O resto do trabalho em fazer a Cultura deveria ser competência dos agentes culturais e dos técnicos do património. Antes era assim.

Há mais ou menos um ano, a responsável política para a Educação e para a Cultura (agora promovida ao Desporto, por motivo que ilude qualquer lógica), promoveu uma verdadeira revolução nos quadros de liderança das Bibliotecas e Museus. Por mandato régio, forçou a saída de pessoas com provas dadas e méritos amplamente reconhecidos pela comunidade. O sismo sentiu-se na Ribeira Grande, em Angra do Heroísmo, Vila do Porto, Santa Cruz da Graciosa e na Horta.

Agora que começam a chegar as pessoas que vieram substituir a competência, assalta o espanto e a incredulidade. Não poderia ser assim. Mas é.

O anterior diretor do Museu da Graciosa, homem com um currículo de décadas de experiência, recentemente reconhecido pela Associação Portuguesa de Museologia, deu lugar a um professor de música, dizem que pianista. O anterior diretor do Museu de Santa Maria, igualmente acarinhado pela comunidade, com anos e anos de trabalho dado e demonstrado, é agora funcionário de uma professora, anterior deputada do PSD. E poderíamos continuar a desfiar o penoso rosário, mas com os exemplos dados já se percebeu o que há, e o que falta.

Não fica dúvida que o requisito dos novos concursos foi o da confiança partidária. A competência foi despromovida, pois que de museus não se lhes conhecem referências nos currículos dos novos mandantes.

A revolução cultural de Mao Tsé-Tung foi trabalho de remodelação de um país divido em províncias, para unificar a China sobre a bandeira de um ideal único e ditatorial. A da Sra. Secretária da Cultura parece ser vocacionada para a centralização do arquipélago sobre uma ideologia tachista, onde a cultura é decorativa, e o que interessa é quem cala e consente.

O processo de democratização da Cultura anda ao contrário. Em vez de alimentar a chama, tratam de a extinguir nos Açores.

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