A nova administradora nomeada pelo Governo para a empresa pública Portos dos Açores, SA, Sancha Santos, revelou hoje que pretende aumentar as receitas da empresa e renegociar a dívida bancária, com o objetivo de melhorar os resultados financeiros.
“Há várias formas de melhorar os resultados: aumentar as receitas, aumentando o volume de negócios, através de políticas de contenção de custos, para libertar mais fundos para a atividade, e renegociar a dívida”, exemplificou a futura presidente do Conselho de Administração, durante uma audição parlamentar na Comissão de Economia da Assembleia Regional, reunida em Ponta Delgada.
As explicações de Sancha Santos surgiram na sequência de questões levantadas pelo deputado do Partido Socialista, Carlos Silva, que lembrou que a dívida bancária da Portos dos Açores “duplicou em pouco mais de um ano”, devido à assunção de compromissos que, na sua opinião, competiam à tutela e não à empresa.
“Devia ter sido a região a assumir essa dívida e não obrigar a Portos dos Açores a assumir dívida que coloca em causa agora a necessidade de se adotarem medidas de saneamento financeiro, conforme ficou também explicito na auditoria externa que foi encomendada”, lembrou o parlamentar socialista.
Em causa está um empréstimo no valor de 53 milhões de euros, contraído pela Portos dos Açores para fazer face aos custos com a reconstrução do porto das Lajes das Flores, destruído pelo furação Lorenzo em outubro de 2019, que o deputado do PSD, Joaquim Machado, lembra que devia ter sido financiado pelo Governo da República.
“O Governo da República de António Costa só transferiu para a região 10% dos 313 milhões de euros que estão identificados como despesa, em vez do 85% com os quais se tinha comprometido”, frisou o parlamentar social-democrata, justificando assim por que razão a Portos dos Açores assumiu despesas que não lhe competiam.
A futura presidente da Portos dos Açores indigitada pelo Governo era funcionária do INOVA (Instituto de Novas Tecnologias dos Açores) e irá substituir no cargo Rui Terra, que foi nomeado para o gabinete do secretário regional do Mar e das Pescas.
A escolha de Sancha Santos para estas novas funções mereceu, no entanto, a crítica do deputado do Chega, Francisco Lima, que disse não reconhecer “competências técnicas” à futura administradora da Portos dos Açores para assumir este cargo.
“A empresa tem 283 colaboradores, tem um corpo técnico especializado nas diferentes áreas e eu não me vou substituir às pessoas que lá estão! As pessoas são competentes, têm as suas funções e a minha função é de coordenação”, justificou, no final da audição, Sancha Santos.
Recorde-se que uma auditoria externa encomendada pelo Governo Regional, na anterior legislatura, revelava que a Portos dos Açores tinha um “‘stock’ de dívida insustentável”, que poderia obrigar a um processo de saneamento financeiro.
“A Portos dos Açores necessitaria de um prazo superior a 148 anos para reembolsar a dívida atual, o que não é sustentável”, refere o documento, divulgado o ano passado pela Lusa, e que acrescentava que a tutela deveria considerar a realização de um “saneamento de parte da dívida da Portos dos Açores” e a reestruturação, junto das entidades bancárias, do restante montante.
Em causa estavam, na altura, 69,5 milhões de euros de “dívida não sustentável” que a empresa que gere os portos do arquipélago acumulou ao longo de vários anos, a somar a outros 5,4 milhões de euros de dívida considerada “sustentável”, e que se adequa, segundo os auditores, à capacidade de geração de ‘cash’ da Portos dos Açores.