Alexandra Manes

Conta-nos a história que, por volta de 1513, terá sido terminada a obra mais famosa de Nicolau Maquiavel: O Príncipe. Sobre a inspiração para a sua narrativa, os historiadores e analistas políticos não encontram consensos, ainda que se mantenham versões sobre o sanguinário Rodrigo Bórgia, ou sobre o nosso próprio D. João II. O que é certo, é que aquele livro relata uma espécie de plano de trabalhos sobre como conquistar poder, e mantê-lo pela força e pelo medo.

O Príncipe de Maquiavel foi replicado, ao longo dos séculos, de forma mais ou menos bem-sucedida, por uma série de aspirantes a ditadores, ou ditadorezinhos de cordel, que assumiram os pódios, inspiraram as massas e acabaram por perder. Gosto de acreditar que a derrota dessas pessoas é inevitável, ainda que o mundo insista em tentar provar-me o contrário.

Recentemente, assistimos à ascensão de mais um maquiavélico manipulador principesco. Mas não é a esse que dedico estas linhas. É de outro príncipe, também ele escolhido primeiramente pelo PSD, e pela sua relação com a manipulação, a comunicação social e o controlo das massas.

Sebastião não é aquele que alguns esperam que venha das brumas, mesmo que tenha uma cara igualmente juvenil e uma atitude que poderão considerar arrogantemente régia. Dr. Bugalho, para os amigos, é o cabeça de lista de uma candidatura da AD (PSD/CDS-PP e PPM) às Europeias, onde os restantes nomes foram apagados, tornando-se um caminho de um homem só, mesmo que Nascimento Cabral continue a insistir que vai ser eleito pelos Açores.

Sebastião Bugalho anda por todo o lado, rodeado por um vasto grupo de grisalhos conselheiros, que lhe dão todos os votos de confiança para ser o futuro do PSD. O último fenómeno semelhante terá sido o de Ventura, quando Passos Coelho lhe levantou a mão e depositou o seu voto nele, com firmeza.

O nosso comentador de carreira não muito vasta é muito mais do que apenas uma mascote, tendo conseguido a proeza de rebaixar Rui Moreira ainda antes de começar a campanha, e seguindo-se uma presença proativa em todas as redes sociais e canais de televisão. Ninguém fica indiferente ao Sebastião, nem mesmo as sondagens que mostram o PSD a perder pontos, exponencialmente, em favor do partido de extrema-direita, que se aproveita da amizade de Bugalho para piscar o olho aos jovens do PPD.

Montenegro enganou-se na escolha do seu novo Príncipe, mas apenas porque o futuro de Sebastião parecia já traçado, dias antes de assumir-se candidato, quando defendeu com determinação todas as intervenções de Ventura na campanha eleitoral para as legislativas.

Sebastião não esconde a sua arrogância e ensejo. Basta passarmos os olhos pela maneira como responde às jornalistas, ou escutarmos algumas conversas de corredor sobre relacionamentos passados, sejam eles políticos ou pessoais. E, se não acreditarmos, então o melhor é vermos como Catarina Martins e Marta Temido desmontaram a sua fachada de acalmia, informando as portuguesas e os portugueses sobre a intenção de Sebastião em voltar a criminalizar a interrupção voluntária da gravidez em Portugal.

Sebastião Bugalho foi escolhido para ser o primeiro entre os pares da direita que se extrema. Um voto na lista que encabeça, será um voto numa Europa de valores cada vez mais corroídos, onde os que se dizem tradicionais e conservadores dão abraços apertados ao neofascismo radical. Onde as mulheres são condenadas a serem donas de casa, sem controlo sobre o seu próprio corpo. Onde ninguém será livre de viver como desejar, sem primeiro pedir autorização ao chefe e ao polícia.

Um Parlamento Europeu com mais Bugalhos e Tângeres é retroceder no tempo, principalmente nos direitos das mulheres. Basta ver que, em pleno século XXI, eurodeputados do PSD e CDS-PP votaram contra a inclusão do direito ao aborto na Carta dos Direitos Fundamentais da UE.

Sebastião Bugalho será sempre um príncipe imperfeito.

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