A greve na Atlânticoline está a causar “impactos graves” junto do tecido empresarial de São Jorge, nos Açores, e há empresas “com milhares de euros perdidos devido a cancelamentos de grupos” turísticos, alertou o Núcleo Empresarial local.
“O Núcleo representativo dos empresários de São Jorge considera ser imprescindível alertar para a necessidade de se chegar a um célere entendimento, pois a situação está a causar impactos graves junto do tecido empresarial local”, lê-se num comunicado enviado às redações, a propósito da paralisação na empresa pública de transporte marítimo, que se iniciou a 07 de março.
Segundo o Núcleo Empresarial da Ilha de São Jorge (NESJ), a restauração, táxis, aluguer de veículos e unidades de alojamento também estão a sentir “os efeitos negativos” da greve e “receiam não ser capazes de assegurar postos de trabalho e o investimento que já fizeram na preparação para a época alta”.
O Núcleo Empresarial de São Jorge teme um agravamento da situação caso a greve se prolongue por tempo indeterminado.
“As empresas turísticas da ilha de São Jorge vivem, há vários anos, num estado de sobrevivência. Ora pela pandemia, ora pela crise sismo vulcânica, afetadas fortemente pela sazonalidade, estas empresas necessitam que todas as acessibilidades sejam previsíveis e constantes nos poucos meses em que podem garantir receitas para a sua sobrevivência”, assinalam os empresários.
O Núcleo lembra que a ilha é “a única” do Triângulo[São Jorge, Pico e Faial] “sem gateway”, pelo que depende das ligações marítimas.
“Neste momento já existem empresas com milhares de euros perdidos devido a cancelamentos de grupos. Os operadores turísticos ponderam retirar dos seus programas o destino São Jorge. Existem empresários a ponderar encerrar as suas empresas caso a situação se prolongue. Não é só ao nível da animação turística que se sente o impacto”, relata, considerando que, “a longo prazo, a imagem da Região também fica marcada pela negativa”.
Os empresários de São Jorge sublinham que entendem a reivindicação dos trabalhadores da Atlânticoline, mas apelam “à rápida resolução” desta situação e para que “sejam feitos todos os esforços” para que as ligações marítimas a São Jorge “sejam previsíveis e fiáveis”.
“É com extrema apreensão que o Núcleo Empresarial da Ilha de São Jorge acompanha os impactos da greve atual dos trabalhadores da Atlanticoline”, frisam, referindo-se ao testemunho de vários empresários que relatam os “impactos graves” da paralisação.
Na quarta-feira, o Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitários e Pescas alertou que a greve na Atlânticoline “vai durar o tempo que tiver de durar” e insistiu na intervenção do Governo dos Açores.
“Já se esgotaram todas as situações. A administração não tem condições para negociar connosco. Tem de vir outra pessoa. E o governo. A empresa é propriedade do governo. Esgotaram-se todas as tentativas porque a administração quer aquilo que não é possível”, avisou o dirigente sindical Clarimundo Batista em declarações à agência Lusa.
O alerta surgiu um dia depois de o presidente do Governo Regional ter rejeitado “para já” qualquer intervenção do executivo açoriano no processo negocial.
“Quando a própria administração ou os sindicatos e o próprio governo no seu juízo sobre a situação vir que é útil a sua intervenção, falo-á, mas, para já, (a negociação) é no domínio da autonomia e independência da administração de uma empresa do setor público com os representantes dos seus trabalhadores”, afirmou José Manuel Bolieiro.
Segundo o sindicato, apenas estão a ser realizadas as viagens de serviços mínimos.
A greve começou em 07 de março e chegou a ser suspensa em 19 de março devido às negociações entre o sindicato e a administração, mas foi retomada e está agora marcada por tempo indeterminado.
O sindicato reivindica aumentos salariais de 15% para os “maquinistas de primeira”, valor que a administração da empresa considera financeiramente incomportável.
O dirigente sindical defende que o aumento proposto pela empresa é, na prática, “de apenas 6%”, já que a atualização das tabelas salariais para os trabalhadores da empresa já previa outros aumentos para o corrente ano.
Na segunda-feira, a Atlânticoline garantiu que o conselho de administração “continua empenhado na resolução deste impasse” e que está “consciente dos graves constrangimentos que esta grave tem causado”.
A empresa revelou ainda a intenção de solicitar à Secretaria Regional da Juventude, Habitação e Emprego a conciliação do processo.
A Atlânticoline transporta anualmente quase meio milhão de passageiros e cerca de 30 mil viaturas, sobretudo entre as ilhas do Triângulo (Faial, Pico e São Jorge), onde opera todo o ano, com recurso a quatro embarcações (dois navios e dois ferries).