Os deputados do PS eleitos pelo Pico, nos Açores, apelaram hoje ao Governo Regional para intervir “no diferendo” entre a administração da Atlânticoline e trabalhadores para acabar com a greve na empresa pública e normalizar a operação marítima.
“Passado cerca de um mês desde o início da greve, está a tornar-se insustentável assistir a este impasse nas negociações entre quem dirige aquela empresa e o sindicato dos trabalhadores”, afirmam Mário Tomé e Marta Matos, deputados socialistas no parlamento açoriano, citados em nota de imprensa.
Os parlamentares socialistas sustentam que a situação “está a causar revolta” entre os passageiros, designadamente aqueles que se deslocam diariamente entre ilhas para realizar tratamentos médicos e por questões profissionais.
“O Governo Regional, enquanto acionista maioritário daquela empresa, tem a obrigação de atuar e de intervir, em vez de se desresponsabilizar desta situação, como temos vindo a assistir”, sustentam Mário Tomé e Marta Matos.
Os deputados socialistas açorianos consideram que “o presidente do Governo Regional do PSD/CDS-PP/PPM não pode, como fez recentemente, lavar as mãos em todo este processo” e acusam o executivo de “insensibilidade perante os relatos e as evidências”.
Na nota, Mário Tomé e Marta Matos afirmam que muitos dos lesados “são pessoas idosas, com mobilidade reduzida e saúde debilitada que se veem confrontadas com a incerteza das suas deslocações”, o que “podem resultar em custos acrescidos para as famílias que, ora veem impossibilitadas as suas deslocações ao Hospital da Horta, ora têm custos acrescidos pela necessidade de pernoita devido à greve”.
Os deputados apontam que a greve está a causar “graves transtornos” às empresas e ao setor turístico e apelam ao Governo Regional para que lidere “um diálogo eficaz” que permita “colocar um fim” a uma situação que se está “a revelar cada vez mais insuportável, em vez de continuar a dar cobertura à intransigência que não aponta a qualquer solução”.
Na quarta-feira, o Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitários e Pescas alertou que a greve na Atlânticoline “vai durar o tempo que tiver de durar” e insistiu na intervenção do Governo dos Açores.
“Já se esgotaram todas as situações. A administração não tem condições para negociar connosco. Tem de vir outra pessoa. E o governo. A empresa é propriedade do governo. Esgotaram-se todas as tentativas porque a administração quer aquilo que não é possível”, avisou o dirigente sindical Clarimundo Batista em declarações à agência Lusa.
O alerta surgiu um dia depois de o presidente do Governo Regional ter rejeitado “para já” qualquer intervenção do executivo açoriano no processo negocial.
“Quando a própria administração ou os sindicatos e o próprio governo no seu juízo sobre a situação vir que é útil a sua intervenção, falo-á, mas, para já, (a negociação) é no domínio da autonomia e independência da administração de uma empresa do setor público com os representantes dos seus trabalhadores”, afirmou José Manuel Bolieiro.
Segundo o sindicato, apenas estão a ser realizadas as viagens de serviços mínimos.
A greve começou em 07 de março e chegou a ser suspensa em 19 de março devido às negociações entre o sindicato e a administração, mas foi retomada e está agora marcada por tempo indeterminado.
O sindicato reivindica aumentos salariais de 15% para os “maquinistas de primeira”, valor que a administração da empresa considera financeiramente incomportável.
O dirigente sindical defende que o aumento proposto pela empresa é, na prática, “de apenas 6%”, já que a atualização das tabelas salariais para os trabalhadores da empresa já previa outros aumentos para o corrente ano.
Na segunda-feira, a Atlânticoline garantiu que o conselho de administração “continua empenhado na resolução deste impasse” e que está “consciente dos graves constrangimentos que esta grave tem causado”.
A empresa revelou ainda a intenção de solicitar à Secretaria Regional da Juventude, Habitação e Emprego a conciliação do processo.
A Atlânticoline transporta anualmente quase meio milhão de passageiros e cerca de 30 mil viaturas, sobretudo entre as ilhas do Triângulo (Faial, Pico e São Jorge), onde opera todo o ano, com recurso a quatro embarcações (dois navios e dois ferries).