Alexandra Manes

O Serviço de Ortopedia do Hospital de Santo Espírito na ilha Terceira (HSEIT) era reconhecido não só pela sua organização, como pela qualidade dos seus profissionais, em que o Serviço de Urgência e prevenção de Ortopedia funcionava com 4 ortopedistas do Serviço de Ortopedia, com a ajuda de um conjunto de prestadores de serviço indiferenciados, com experiência em atendimento de doentes de orto traumatologia, que desempenhavam as suas funções regularmente nesse serviço e com esses Ortopedistas.

Ou seja, um serviço que contava com uma equipa treinada, articulada, de forma a dar resposta no serviço de Urgências, bem como na eliminação de listas de espera, tanto em cirurgias como em matéria de consultas da especialidade. Não tinham o número de ortopedistas necessários, mas com a optimização de recursos, conseguiam dar a resposta necessária e atempada.

Exatamente por isso, fiquei surpreendida com notícias recentes que davam conta da insatisfação destes profissionais, bem como da falta de ortopedistas na urgência e prevenção no HSEIT. A peça da RTP/Açores deixa bem claro que esta situação aconteceu com a entrada em funções da atual Direção Clínica e com o modelo de urgência implementado, no qual os ortopedistas deixaram de contar com a maioria dos prestadores de serviço – aquelas e aqueles profissionais que tinham sido treinados e trabalhavam num serviço bem organizado.

A situação criada teve consequências imediatas, pois o aumento da carga de trabalho contribuiu para que rapidamente se esgotassem as 150 horas extra de carácter obrigatório por lei, levando a que os especialistas tenham apresentado escusa de responsabilidades à Ordem dos Médicos.

A solução encontrada pela Direção Clínica foi a de recorrer a empresas prestadoras de serviços para colmatar esta situação, no entanto as escalas não têm sido asseguradas na totalidade e a alternativa tem passado pela transferência de utentes, nos quais de incluem crianças, para o Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.

Ora, na semana passada, foi tornado público um Estudo publicado na Acta Médica Portuguesa (revista científica da Ordem dos Médicos), da responsabilidade de vários profissionais de saúde, com o título Trauma Associado às Touradas à Corda nos Açores: Um Estudo Transversal, que dá conta da grande afluência ao serviço de urgências, bem como dos traumatismos resultantes da exposição ao perigo, no período em que se realiza a prática taurina e dos elevados gastos em recursos humanos e financeiros, por parte do Serviço Regional de Saúde, que tem vindo a sofrer de um subfinanciamento crónico.

Considerando a situação de escassez de recursos humanos, da Ortopedia, no Serviço de Urgências, no HSEIT, e sabendo-se da conclusão do suprarreferido Estudo, importa saber como vai o Serviço Regional de Saúde resolver este problema.

Vai continuar a evacuação de utentes para o HDES, sabendo-se do aumento exponencial que essas evacuações imputam ao SRS?

Outra questão relevante prende-se com o, recentemente apresentado, Plano Regional de Saúde, que já se percebeu incidir na prevenção de comportamentos. Ora, assim sendo, qual a razão para que a exposição ao perigo da prática taurina não seja mencionada, bem como os custos diretos associados aos tratamentos, à quebra de produtividade resultantes dos traumas, da mesma forma que o fazem, por exemplo, no tabagismo?

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