O antigo dirigente do PS/Açores e fundador do partido no arquipélago, Martins Goulart, entende que seria possível aproximar mais os eleitos dos eleitores, se fosse criado um círculo regional único na região, a somar aos círculos de ilha.
“Se houver o tal círculo regional, pode-se até reduzir deputados, mesmo com dois deputados por ilha”, explicou o antigo deputado e líder dos socialistas açorianos, que falava no Museu da Assembleia Legislativa Regional, na Horta, no âmbito das “Conversas de Abril”, iniciativa criada pelo parlamento para assinalar as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, que juntou à mesma mesa Martins Goulart, do PS e Mota Amaral, antigo líder do PSD/Açores e presidente do Governo Regional.
Para Martins Goulart, a criação de um círculo regional único, a somar aos nove círculos de ilha, garantiria “mais união entre os açorianos”, ao invés do círculo regional de compensação, atualmente existente, que no seu entender não assegura a devida dignidade a quem por ele concorre, na medida em que elege deputados “com os restos dos votos” das outras ilhas.
Mas Mota Amaral tem uma opinião contrária, em relação à união entre açorianos, objetivo que considera ter sido alcançado nos primeiros anos da autonomia, quando os governos regionais a que presidiu, tiveram de começar quase do zero, em matéria de construção de infraestruturas fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico das ilhas.
“Construímos portos, aeroportos, escolas, hospitais, estradas… Sim, fez-se isso tudo, mas isso era o aspeto menos importante! O mais importante foi ter unido os Açores, ter unidos os açorianos todos, a reclamarem os seus direitos!”, lembra o primeiro presidente do Governo Regional, que esteve no poder durante 19 anos consecutivos.
Mota Amaral, que chegou a ser eleito presidente da Assembleia da República, após abandonar o executivo açoriano, recordou as dificuldades que os políticos dos Açores tiveram em criar a autonomia regional, e da luta que então encetou contra os “velhos do Restelo”.
“É por isso que me preocupo tanto quando vejo essa unidade posta em causa pelos velhos fantasmas do bairrismo, que não morreram!”, frisou o dirigente social-democrata, referindo-se às divergências entre ilhas, lamentando que, hoje em dia, ainda haja quem as “agite, protagonize e queira incentivar”.
Mota Amaral e Martins Goulart chegaram a defrontar-se em eleições regionais, ambos como candidatos a presidente do Governo, o primeiro pelas listas do PSD, o segundo pelas listas do PS, mas a vitória acabou por ser sempre dos social-democratas.
O então candidato socialista lembra que, apesar das divergências políticas que os separavam, sempre conseguiram manter o nível do debate, sem “faltar ao respeito um do outro”, preocupação que lamenta já não existir, atualmente, por parte de algumas forças políticas na Assembleia Regional.
“Personalizam-se muito os combates políticos, criam-se situações de adversidade, que ultrapassam, às vezes, o que era esperável no órgão máximo da autonomia regional”, frisou Martins Goulart, sem, no entanto, especificar a quem se estava a referir.
O antigo líder do PS/Açores recordou mesmo um episódio que se passou na Assembleia Regional, na legislatura 1988/1992, altura em que a bancada do PSD perdeu a maioria absoluta, porque um deputado social-democrata passou à condição de independente, situação que Martins Goulart recusou aproveitar politicamente, mesmo contra a vontade do seu partido.
“O meu grupo parlamentar queria que eu me candidatasse a presidente da Assembleia Regional, mas eu recusei!”, lembra o deputado socialista, adiantando que, se tivesse aceitado, teria protagonizado “a primeira geringonça nacional” em 1988, muito antes da que António Costa, líder nacional do PS, liderou no primeiro ano de governação na República.