A Ana Rita é uma das milhares de mulheres portuguesas que foi diagnosticada com cancro da mama. Aos 41 anos, e ainda a amamentar a filha mais nova, descobriu que tinha cancro nas duas mamas e que uma recidiva noutro órgão.
A Ana estudou Microbiologia Médica e, como tal, estava habilitada e consciente da doença e da possibilidade de ser fatal.
Não conheço pessoalmente a Ana Rita, mas segui-a incessantemente nas redes sociais quando percebi o desespero do seu marido, e dela própria, para angariação da quantia necessária para que pudessem adquirir uma medicação, que já havia dado provas da diminuição acentuada na probabilidade de recidivas, que não era comparticipada, em Portugal.
Para além de criar um “Crowdfunding”, Ana Rita participou em programas de televisão, deu entrevistas a alguns órgãos de comunicação social, onde, para além, de contar a sua história, enquanto doente oncológica, e os obstáculos financeiros com que se deparava para fazer o tratamento que desejava, aproveitava, também, para divulgar a petição que redigiu, garantindo a si e a todas as mulheres, na mesma situação clínica tenham acesso ao medicamento “Abemaciclib”.
Ana Rita foi envolvida por uma onda de solidariedade e de afeto incrível, onde milhares de pessoas contribuíram para o tratamento desejado. A sua comunidade organizou diversos eventos para angariação de dinheiro e ela conseguiu adquirir o medicamento que o seu país recusava em fornecer-lhe.
Foi, e é uma mulher de grande coragem e determinação. Falou sobre a sua doença e também sobre a importância do diagnóstico precoce do cancro da mama. Uma guerreira de sorriso contagiante que não deu tréguas ao cancro, com uma postura de transmitir esperança e de gratidão à vida.
Na semana passada, a Ana Rita, e todas nós, teve uma das notícias pela qual tanto lutou e cito as suas palavras: “a partir de hoje TODAS as mulheres e homens com cancro da mama precoce com receptor hormonal positivo e receptor HER2 negativo, com gânglios linfáticos positivos e com elevado risco de recorrência vão ter acesso ao tratamento adjuvante (combinado com terapêutica hormonal) com o Abemaciclib!! Finalmente, o Infarmed autorizou o uso desta medicação para a prevenção de recidivas!! Agora posso ficar mais descansada que mais uma luta foi vencida…hoje é um dia feliz!!”.
Nos últimos anos, tenho perdido pessoas muito importantes. A Zuraida, a Helita e a Carina. Três mulheres que lutaram pelo empoderamento de outras mulheres, mas que perderam a batalha mais difícil das suas vidas.
Mas, também tenho outros exemplos. A Susana, uma das pessoas de que mais gosto – uma irmã que a vida me ofereceu, não se resignou e lutou. Passou a encarar a vida de outra forma e com uma fé inabalável, decidiu que queria viver. Conseguiu.
Tenho conhecido várias pessoas por via desta doença. Mulheres guerreiras que lutando pela sua vida, lutam por todas e todos nós. A Maria José é uma dessas mulheres, que nunca se cansou de apelar, fazendo uso da petição pública, para um serviço oncológico, nos Açores, que dê uma resposta atempada.
Profissionais de saúde, doentes oncológicas/os, Liga Contra o Cancro, família e restante comunidade, um profundo agradecimento pela vossa luta e pelo vosso trabalho.
A Ana Rita venceu uma das suas batalhas ao conseguir a comparticipação do Estado no Abemamaciclib. Espero que vença as restantes.
Termino com mais uma citação da Ana: “O melhor conselho que posso dar é: não vivam o cancro sozinhos.”
Obrigada, Ana Rita!