O presidente do conselho de administração da Unidade de Saúde da Ilha do Corvo, nos Açores, Paulo Margato, disse hoje que vai pedir a demissão, depois de ter sido acusado pelo Ministério Público de seis crimes.
“Não quero que a minha situação pessoal afete a tranquilidade e a normalidade que se vive na comunidade que atualmente integro. Por isso, informo que vou apresentar, de forma imediata, o meu pedido de demissão do cargo de presidente do conselho de administração da Unidade de Saúde da Ilha do Corvo ao presidente do Governo Regional dos Açores, apenas permanecendo no cargo o tempo necessário até a minha substituição efetiva”, avançou Paulo Margato, em comunicado de imprensa.
Segundo a RTP/Açores, o Ministério Público acusou 16 arguidos de 55 crimes, no âmbito da operação Asclépio, cuja investigação se iniciou em 2015.
Em 2017, quando fez buscas e quatro detenções, a Polícia Judiciária revelou que havia suspeitas de “práticas ilícitas que visavam obter posições indevidas de privilégio na realização de contratos de fornecimento de bens a organismos prestadores de serviços de saúde, a troco de contrapartidas pecuniárias e outras, lesivas do interesse público”.
O médico Paulo Margato, à altura dos factos diretor clínico do Centro de Saúde de Ponta Delgada, delegado de saúde do concelho de Ponta Delgada e delegado de saúde substituto do concelho da Lagoa, foi agora acusado de seis crimes, sendo dois de corrupção passiva, dois de abuso de poder, um de acesso ilegítimo e um de associação criminosa.
Paulo Margato, que foi candidato às eleições legislativas regionais de 2020 e de 2024 pelo PPM, foi nomeado presidente do conselho de administração da Unidade de Saúde da Ilha do Corvo em maio de 2022, pelo executivo PSD/CDS/PPM.
Na altura, o anterior presidente do conselho de administração, António Salgado, acusou o Governo Regional de o ter afastado por motivos políticos, acabando por abandonar a ilha.
Apesar de pedir a demissão de presidente do conselho de administração, Paulo Margato garantiu que continuará “a servir a população da ilha do Corvo da mesma forma, com o mesmo sentido de missão e abnegação”.
“Quero, desde já, tranquilizar a população da ilha do Corvo. Deixo de ser presidente da Unidade de Saúde, mas não deserto das minhas responsabilidades em relação à população. Sou presentemente médico do quadro da Unidade de Saúde da Ilha do Corvo e vou permanecer nessa função enquanto me for permitido e apresentar-se possível”, adiantou no comunicado.
O médico disse ter encarado a dedução da acusação como “um alívio”, depois de “sete longos anos de espera”, em que “foi afetada de uma forma dramática” a sua vida “pessoal, familiar e profissional”.
“Posso agora defender-me nos tribunais, provar a minha inocência e terminar, assim, o doloroso período em que a minha vida se transformou num autêntico inferno, de forma absolutamente injustificada e injusta, como tenho a convicção absoluta que se irá provar na Justiça”, frisou.
Ainda assim, afirmou que, desde que foi deduzido a acusação, tem sido “alvo de uma autêntica ‘caça ao homem’”, que está a “afetar gravemente” a sua família e os seus utentes, alegando que a sua presunção de inocência foi “completamente obliterada” e que tem havido uma “desproporcionalidade” no tratamento noticioso.