As farmácias da ilha Terceira, nos Açores, iniciaram hoje um rastreio gratuito à bactéria Helicobacter pylori, que está na origem de cerca de 80% dos cancros gástricos, segundo o presidente do Centro de Oncologia dos Açores (COA), João Macedo.

“Há estudos que demonstram que cerca de 80% dos cancros gástricos têm origem nesta bactéria, além de outras patologias e neoplasias, com uma percentagem na ordem dos 40 a 50%. É um fator de risco oncológico comprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, afirmou João Macedo, em declarações aos jornalistas, à margem do lançamento do programa de prevenção do cancro gástrico.

A iniciativa partiu do grupo de trabalho de prevenção do National Cancer Hub, criado em junho de 2022, que integra profissionais de saúde, representantes de associações de doentes e investigadores, em representação de instituições como o IPO de Coimbra, o COA, a Associação Nacional de Farmácias, a Associação de Farmácias de Portugal, o Ipatimup, a Universidade Fernando Pessoa e a Europacolon Portugal, entre outras.

O projeto-piloto arrancou hoje e até julho/agosto o rastreio estará disponível, de forma gratuita, em praticamente todas as farmácias da ilha Terceira.

“É uma abordagem inovadora, através das farmácias, de uma política de proximidade com o seu utente e um dos aspetos que queremos avaliar é se esta metodologia de abordagem terá uma adesão superior às metodologias tradicionais”, salientou João Macedo.

A deteção da bactéria é feita através de uma análise às fezes e “toda a população adulta assintomática poderá aderir ao programa”, com exceção de “grávidas, pessoas que tenham tido diagnóstico de cancro gástrico ou pessoas que tenham feito o teste num espaço de tempo curto”.

“No caso de ser confirmada a presença da bactéria, as pessoas serão chamadas para uma consulta médica e será proposta a terapêutica de erradicação”, explicou João Macedo, sublinhando que com terapêutica antibiótica “consegue-se eliminar esse fator de risco num espaço relativamente curto e de forma eficaz”.

Estima-se que 65 a 80% da população portuguesa tenha a bactéria Helicobacter pylori no estômago.

“Muita gente terá esta bactéria mesmo sem saber e numa percentagem de pessoas ela poderá desenvolver-se futuramente como um dos fatores de risco para cancro do estômago”, alertou o presidente do COA.

João Macedo disse acreditar que o rastreio “terá uma boa adesão”, alegando que, no primeiro dia, algumas farmácias já perguntaram se era possível reforçar o número de kits.

Segundo o presidente do COA, os Açores têm uma incidência deste tipo de cancro “superior à média nacional”, com 50 a 55 casos por ano, em média, e uma elevada taxa de mortalidade (entre 30 a 40 casos).

O gestor de ciência da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), Hugo Soares, disse esperar que o rastreio possa ser expandido a outras ilhas e ao continente.

“Temos aqui uma oportunidade de perceber como é que um programa de rastreio de uma infeção e posterior tratamento podem ajudar a combater o desenvolvimento, a instalação e a evolução desta infeção para casos de cancro”, apontou.

Também Teresa Almeida, da direção da Associação Nacional de Farmácias, defendeu que o programa pode ser alargado a outras partes do país.

“As farmácias são uma rede de proximidade que todos reconhecem, em que os seus profissionais têm competência, têm uma proximidade muito grande, têm horários muito adaptados à vida moderna e, portanto, tornam-se locais muito acessíveis para promoção da saúde, para a adesão à terapêutica e aos rastreios”, sublinhou.

O diretor regional da Saúde dos Açores, Pedro Paes, lembrou que a região tem quatro programas ativos de rastreio oncológico e conta lançar em breve um rastreio ao cancro do pulmão.

Segundo Pedro Paes, em 2022, o rastreio ao cancro da mama contou com uma adesão de 74%, o do cancro do colo do útero 66%, o do cancro da cavidade oral 38% e o do cancro do cólon e reto 20%.

 

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