O dr. Cordeiro é um caso excecional na política açoriana. Em bom rigor, acumula duas exceções de duvidosa virtude: em quase 50 anos de Autonomia é o único Presidente que, candidatando-se, não conseguiu voltar a ser nomeado e depois, insistindo na corrida ao cargo, foi derrotado nas urnas. Pelo meio também perdeu as eleições autárquicas e não se lhe augura grande sucesso já no dia 10. Portanto, o currículo não abona a favor da continuidade de funções.
Já aqui disse, abriu-se a porta pequena por onde o dr. Vasco será obrigado a sair, muito provavelmente com três derrotas eleitorais em quatro meses. Ora, é precisamente neste vaticínio que o ainda presidente socialista me está a dar a volta. Convenci-me que por estoicismo permanecesse no cargo até ao cumprimento das eleições europeias, partindo do velho princípio de que o comandante tem o dever de ser o último a abandonar o barco.
Mas o dr. Cordeiro, a fazer fé numa notícia não desmentida, prepara-se para abreviar o inevitável destino, deixando os camaradas à sua mercê. A antecedência do anúncio tem tanto de generosidade quanto de maquiavelismo. É verdade, abre o caminho para os putativos sucessores (por vaidade, há sempre alguém disponível para a imolação) e de caminho complica a campanha ao herdeiro da família César. Na política não há almoços grátis nem proclamações inofensivas, tudo tem uma explicação e um propósito. E raramente sobram contas para acertar; o deve e o haver faz-se enquanto é tempo.
Começa a contagem de espingardas. Previsivelmente, diz-nos a história, a “guerra” será longa.