No dia 10 de março Portugal é convocado a votar. São as legislativas nacionais que definem as políticas para um país que apresenta sérios problemas em questões como o da saúde, habitação, educação, rendimentos, emprego, entre outros.
Sou uma defensora convicta do Estado Social, com um orgulho imenso nas portas que abril abriu para a defesa de valores coletivos. No entanto, defender esses valores não passa unicamente pelas palavras de ordem, nem por hashtags. Ao contrário do que se diz “Não passarão”, eles já estão a passar.
Encontraram corredores que lhe permitiram, durante anos, passar a sua mensagem, aquela que as pessoas, descontentes com o estado de um país e de uma Europa que não lhes dava resposta, queriam ouvir.
De uma forma bastante resumida, a extrema-direita, perante a degradação da qualidade das respostas públicas, definiu um discurso e foi a cada beco, a cada praça, elevou a voz, as mãos e os braços, utilizou as ferramentas a seu dispor para veicular uma mensagem que, mal explicada, correspondia aos milhares de pessoas insatisfeitas. E fê-lo durante anos enquanto se gritava “25 de abril sempre!”.
Hoje, percebemos que essa força política está à beira de se consagrar como a terceira força política, no nosso país e garantir um número suficiente de deputadas e deputados para influenciar as decisões futuras que determinam as nossas vidas.
Agora analisemos a maioria dos debates/frente a frente que têm como objetivo diferenciar as propostas de cada força política. O que dizem esses debates às pessoas que se levantam antes da madrugada para fazer frente a dois empregos para conseguir pagar as despesas?
Temos assistido a um conjunto de temas importantes, mas, que devido aos termos utilizados e aos conteúdos esgrimidos, acabam por muito pouco lhes dizer, pois ao comum dos mortais interessa-lhe que falem, essencialmente, para ele. E isso não tem acontecido na maioria dos casos. E com as provocações, com a devassa da vida privada das pessoas colocando em risco a segurança de crianças e instituições e, ainda, com intervenções vazias de conteúdo, o populismo tem ganho vantagem, pois é muito mais fácil ouvir o que se quer do que desconstruir mensagens.
Na verdade, e salvo raras exceções, assiste-se a debates pouco construtivos, sem discussão real da substância das propostas, e a forma como determinam a vida das pessoas.
Estamos numa altura em que se verifica a valorização da eficácia em detrimento da elevação democrática, o que à beira de se comemorar os 50 anos de liberdade, deveria dizer muito mais às pessoas.
Eu continuo acreditando que as pessoas sabem que o Serviço Nacional de Saúde é uma das maiores conquistas de Portugal e que têm noção que é aquele que dá resposta a todas as pessoas, independentemente dos seus rendimentos; que a escola pública é um pilar fundamental para que todas e todos tenham acesso à educação; e que todos os serviços de resposta pública, embora necessitando de um forte investimento, são um garante de igualdade.
Acredito que as portuguesas e os portugueses reconhecem que a democracia deve prevalecer nas nossas vidas!