O ex-presidente da Câmara do Funchal Pedro Calado, que hoje regressou à Madeira após três semanas detido, devido a uma investigação de alegada corrupção na região, rejeitou ter cometido ilegalidades e apontou ao juiz de instrução um trabalho exemplar.
“Estamos convictos e estamos certos de que não cometemos ilegalidades. (…) E isso tem sido demonstrado, isso tem sido afirmado. Nós vamos continuar a manifestar a nossa inocência. Nunca cometemos ilegalidades nos processos, não se misturam amizades com situações profissionais”, disse Pedro Calado, em declarações a vários órgãos de comunicação social, no Aeroporto Internacional da Madeira – Cristiano Ronaldo, após o avião onde viajava, proveniente de Lisboa, ter aterrado.
O ex-autarca observou que a Madeira tem uma particularidade, é “uma região pequena, com 250 mil habitantes”.
“Temos um relacionamento muito diferente daquele que possa acontecer no continente, temos as nossas especificidades, mas também sabemos e temos cabeça para saber honrar aquilo que são os compromissos profissionais e aquilo que são relações de amizade”, declarou.
O antigo autarca salientou que no período em que esteve detido houve “o tempo da recolha de provas, houve o tempo de apresentação, houve o tempo de análise”, considerando que o juiz de instrução fez um “trabalho exemplar”, pois “teve tempo de analisar tudo aquilo que estava no processo”.
“Foi um tempo excessivo para todos nós e que nos custou muito a todos, mas deu tempo para analisar e para verificar tudo aquilo que estava em causa”, reconheceu.
Referindo que foi “o tempo necessário, é o tempo da Justiça”, Pedro Calado admitiu, contudo, que “foi um tempo fora daquilo que é habitual”.
“Por um lado, foi bom que houvesse esse tempo, foi bom ter tempo para analisarem, para questionarem, houve tempo para esclarecimentos e houve um tempo de reflexão e depois houve o tempo de decisão”, declarou, garantindo que o trabalho vai continuar, porque “há outros esclarecimentos que têm de ser prestados”.
À pergunta se vai apresentar alguma queixa devido ao período em que esteve detido, o ex-autarca sustentou que não está nada decidido, “mas, se algum dia houver alguma indemnização, esse dinheiro é todo revertido para instituições de solidariedade social e de ajuda a pessoas mais desfavorecidas”.
O social-democrata, que renunciou ao cargo de presidente da Câmara do Funchal, justificou que o “bom desenvolvimento do processo não era compaginável” com a sua manutenção na liderança da autarquia, adiantando que não tenciona assumir qualquer cargo político, público ou partidário.
“Daqui para a frente, não faço mais intenções de exercer qualquer cargo político, público ou partidário, está completamente afastado”, afiançou, mas quando questionado se esta decisão é para sempre, Pedro Calado respondeu: “Não sei o dia de amanhã”.
“Tenho mais anos de vida privada do que de vida pública, não me considero um político profissional, apenas desempenhei funções públicas durante algum tempo, mas tenho muito mais anos de vida privada. Neste momento, vou concentrar-me, única e exclusivamente, na defesa destes processos, no esclarecimento daquilo que tiver de ser esclarecido e vou voltar à minha atividade privada”, disse, esclarecendo não ter ainda um local para o fazer.
O ex-presidente da Câmara agradeceu ainda as “centenas de mensagens” de apoio, à equipa encarregada da sua defesa, assim como o profissionalismo das pessoas envolvidas, dos agentes da Polícia de Segurança Pública aos inspetores da Polícia Judiciária guardas prisionais.
Pedro Calado e os dois empresários detidos há três semanas no âmbito de uma investigação a suspeitas de corrupção na Madeira – Avelino Farinha, o líder do grupo de construção AFA, e Custódio Correia, principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia – ficaram na passada quarta-feira em liberdade, sob termo de identidade e residência, por determinação do juiz Jorge Bernardes de Melo, do Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa.
O Ministério Público tinha pedido prisão preventiva, a medida mais gravosa, para os três arguidos, mas o juiz de instrução aplicou o termo de identidade e residência, a medida cautelar menos gravosa.
Em 24 de janeiro, a Polícia Judiciária (PJ) realizou cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.
A PJ deteve nesse dia o então presidente da Câmara do Funchal, que, entretanto, renunciou ao cargo, e os dois empresários.