O Conselho de Redação da TSF enviou hoje uma carta à ERC a “denunciar o perigo” da ingerência da administração na área editorial e alertando para “aquilo que indicia que possa vir a suceder” quando for nomeada nova direção.
Na missiva dirigida à presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), Helena Sousa, o órgão representativo dos trabalhadores da rádio da Global Media Group (GMG) recorda que em 22 de dezembro, numa reunião com a diretora de informação demissionária Rosália Amorim foi informado que “todos os programas com participação de colaboradores externos à TSF seriam suspensos”.
Esta decisão, “de cunho editorial, determinada pela Administração colide frontalmente com todos os princípios pelos quais um órgão de comunicação social deve reger-se numa sociedade democrática, dado que, como atrás foi citado, está vedado ‘ao operador de rádio interferir na produção dos conteúdos de natureza informativa'”, lê-se no documento.
O Conselho de Redação (CR) considera que “as decisões editoriais – como sucedeu sempre na TSF – são responsabilidade da direção”, pelo que “não é, por isso, admissível uma ingerência da administração que, tal como esta, coloca em causa a liberdade de ação de uma direção que, embora demissionária desde o dia 12 de dezembro, não tem as suas capacidades editoriais eliminadas”.
Soma-se ainda que na reunião, Rosália Amorim explicou ao CR ter “discordado” da suspensão “por uma questão de princípio e liberdade e, segundo, pelo contexto editorial de atualidade política e económica que o país vive”, prosseguem os membros do órgão.
A TSF “é uma rádio com perfil eminentemente informativo, como aliás está expresso no ponto 2 do seu Estatuto Editorial onde se refere que a TSF ‘privilegia, no seu conteúdo, a informação de qualidade, isenta, rigorosa e diversificada, que possibilite e garanta a expressão e o confronto das diversas correntes de opinião, no respeito pelos direitos humanos e pelo interesse público'”.
Ora, “este compromisso ganha relevância no momento em que o país ainda vive no rescaldo da crise política e que se avizinha um período de campanha eleitoral”. Entre os programas suspensos estão “todos os espaços de opinião e análise política diária, além dos programas de comentário político ‘Café Duplo’, ‘Não Alinhados’ e ‘Bloco Central’.
Isto resulta num “esvaziamento total de espaços que são uma imagem de marca da TSF”.
O CR aponta que, perante a “linha vermelha que foi ultrapassada”, os membros eleitos do órgão “não podem deixar de denunciar o perigo que representa esta ingerência na área editorial, não apenas por aquilo que já está a acontecer, mas por aquilo que indicia que possa vir a suceder quando e se for nomeada uma nova direção editorial”.
Nesse sentido, “não podem ainda os membros eleitos deste Conselho de Redação deixar de expressar a mais viva preocupação pelo facto de não ser ainda devidamente conhecida a cadeia de proprietários da Global Media Group, sendo desconhecida a titularidade do World Opportunity Fund”, acrescentam.
“No momento em que a TSF atravessa o período mais crítico da sua história, os membros eleitos do Conselho de Redação têm fundados receios sobre as ameaças recorrentes ao projeto editorial de 35 anos, solicitando parecer” da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
Em 28 de dezembro, a Global Media informou os trabalhadores de que não tinha condições para pagar os salários referentes a dezembro, sublinhando que a situação financeira é “extremamente grave”.
A Comissão Executiva não se comprometeu com qualquer data para pagar os salários de dezembro, mas sublinhou que estava a fazer “todos os esforços” para que o atraso seja o menor possível.
Entretanto, o grupo pagou na quinta-feira o subsídio de refeição referente ao mês passado e os salários aos trabalhadores nos Açores.
O programa de rescisões na Global Media termina em 10 de janeiro, dia para o qual também foi convocada uma greve dos trabalhadores do grupo.
Em 06 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.