A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) realizada em Lisboa em agosto colocou os jovens em lugar de destaque na Igreja Católica, com as dioceses a apostarem em evitar a desmobilização daquela camada etária.
Quando chegou à diocese de Angra, nos Açores, em janeiro deste ano, o novo bispo, Armando Esteves Domingues, assumiu como uma das suas prioridades a evangelização dos jovens. Para abril de 2024 convocou já uma assembleia de jovens e quer vê-los mais envolvidos nos diversos órgãos da pastoral.
“Um jovem é muito mais do que nós o imaginamos, do que os pais o imaginam. (…) Nós temos passado um certificado de menoridade aos leigos, mas muito mais aos novos, e nós temos de educar a que sejam participativos, que tenham lugar, tenham palavra, tenham voz e que sejam ouvidos. Faltam muito essas práticas”, diz o bispo dos Açores em entrevista conjunta à agência Lusa e à agência Ecclesia.
Para Armando Esteves Domingues, “a JMJ veio provar que, deixando, os jovens conseguem dar um testemunho muito mais espontâneo, fácil, alegre, feliz. São capazes de caminhar juntos com toda a gente, não se importam se são adultos, são idosos, são velhos”.
“O jovem gosta de ser considerado, mas também é capaz de considerar a todos”, acrescenta o prelado, que considera que a JMJ ultrapassou em muito aquilo que se poderia pensar que seria a JMJ “num tempo de guerra, num pós-pandemia, num país pequeno como o nosso, num extremo quase do mundo, esquecido”.
Ao chegar aos Açores, o bispo, logo no primeiro encontro com os ouvidores, quis saber quantos jovens fazem parte dos Conselhos Pastorais na diocese, alertando que, na Igreja, tal como na política, “os jovens descomprometem-se”, porque sentem que os lugares estão ocupados.
“Eu estou a acentuar essa característica, porque acho que é aquela onde nós temos de nos converter e convencer que o jovem é capaz, mesmo se o chamarem para refletir a sua própria paróquia… ele é capaz nas associações de estudantes, ele é capaz de nas associações desportivas, ele é capaz em tantos espaços. (…) Portanto, os jovens por vezes não estão, porque não acreditamos que eles tenham qualquer coisa para dar”, lamenta.
Para o bispo de Angra, esta situação fez com que os jovens se tenham habituado “a olhar a Igreja um bocado longe, não próxima, não deles”.
Momento marcante nestes meses que leva como titular da diocese dos Açores, viveu-o Armando Esteves Domingues quando, em 24 de julho, subiu ao Pico, com mais de uma centena de jovens, no âmbito da preparação para a JMJ. Na ocasião foi assinado o Pacto da Montanha, consubstanciado no comprometimento de, perante as novas gerações, lhes serem dados “os valores para que, respeitando a natureza, respeitem também toda a criação, a começar pela pessoa humana”.
Com o tema do Cuidado da Casa Comum bem presente, o prelado considera que “faria bem a muitos dos que vão estar nas grandes conferências mundiais [como a recente COP] fazê-las num sítio assim paradisíaco como os Açores”.
Por outro lado, adverte ser necessário, também, “convencer os açorianos e a juventude açoriana que não podem olhar apenas para o bem que têm, mas para quanta influência tem naquele bem que ainda têm, e que pode destruir, aquilo que se passa na Amazónia, aquilo que se passa com a indústria nos países subdesenvolvidos, mas sobretudo nos grandes países desenvolvidos, que são os causadores da poluição, e que tudo isso está a influenciar também a vida nas nossas ilhas”.
“As novas gerações precisam de dar conta que cuidar de uma árvore é cuidar do mundo e o que se passa no mundo tem repercussão no privado. Portanto, não queremos destruir o nosso paraíso, mas gostaríamos que todo o mundo fosse um paraíso e isto está dentro de cada um de nós”, acrescenta o bispo na entrevista à Lusa e à Ecclesia.