Com eleições legislativas regionais antecipadas no horizonte, decorrentes do chumbo do Orçamento Regional para 2024 pela Assembleia Legislativa dos Açores, o bispo diocesano acompanha a situação “com alguma preocupação”, porque a instabilidade tem sempre repercussão no quotidiano dos açorianos.

Porém, Armando Esteves Domingues faz questão de desdramatizar, por acreditar que “este é o caminho normal dos homens e das instituições.

“A estabilidade é sempre muito, muito importante, mas a estabilidade também tem de ser, não a curto prazo… Olho com alguma preocupação, mas também sei que nos Açores há muito boa gente capaz de refletir e de falar e de levar as preocupações comuns para a frente”, diz o bispo em entrevista conjunta à agência Lusa e agência Ecclesia, acrescentando que tem descoberto “nos agentes públicos, e mesmo nos agentes partidários, nos responsáveis, gente de um valor enorme”.

Assim, mostra-se convicto de que “os Açores, à parte os diferentes políticos e as hipotéticas quedas de governo, mudanças de governo, vão encontrar formas de continuar a progredir e a levar o melhor para as populações para a frente”.

Apesar desta confiança, olha para a situação social de algumas zonas dos Açores, para, no âmbito da atividade da Igreja defender a “descentralização, desburocratização, ou começar a partir das bases, começar de baixo e dizer [que] cada comunidade deve cuidar dos seus pobres”.

“A diaconia [o serviço aos outros], este serviço primário, tem de estar na preocupação da comunidade que existe na paróquia, que é aquela célula que depois pode ser uma zona. Nem todas as paróquias têm de ter todos os aspetos organizados. O trabalho em rede, o trabalho em colaboração entre paróquias ajuda muito”, defende o bispo Armando Esteves Domingues, exemplificando: “eu posso ter catequese bem preparada para quatro ou cinco paróquias. A parte social pode estar numa das quatro ou cinco paróquias e por aí fora”.

O bispo não deixa de criticar, porém, os que “se habituam a ter tudo sem trabalhar. A esperar que lhe cheguem os subsídios de graça”.

“Eu sempre tive uma grande ânsia de favorecer muito mais a capacitação para a integração, do que propriamente arranjar grandes subsídios que mantêm pessoas. E aqui, a Igreja acho que tem muito a ensinar, porque o Evangelho é não só uma resposta espiritual, mas também uma resposta à pessoa toda, Jesus Cristo inteiro, à pessoa toda nos seus contextos”, afirma.

Os problemas sociais nos Açores são visíveis, principalmente nos ambientes mais populacionais, como é o caso de Ponta Delgada, onde há o registo de vários sem-abrigo.

Quanto à situação das Instituições Particulares de Solidariedade Social, Armando Esteves Domingues garante que nos Açores a situação é um bocadinho diferente da do continente, onde os alertas quanto à sua sustentabilidade têm sido frequentes.

O Governo Regional “tem uma consciência de que sem as IPSS é muito difícil responder aos problemas reais. Por exemplo, quando é preciso construir um edifício, o Governo comparticipa devida e honradamente, digamos assim”, sublinha.

“Não está fácil para ninguém, sobretudo por causa da questão dos juros, por causa do aumento do ordenado mínimo, justo o aumento, mas que vem criar dificuldades. Porém, devo dizer, conhecendo a realidade do continente, mesmo assim, nós não nos podemos queixar tanto quanto no continente”, faz questão de frisar o bispo de Angra.

Problema que está a aumentar no arquipélago prende-se com a especulação imobiliária, decorrente do aumento do turismo, e que faz com que “quem tem dinheiro compra (…) e as pessoas locais começam a não ter casa”.

“Há especulação imobiliária, mas não há casas disponíveis, não há apartamentos disponíveis, as pessoas não conseguem um sítio para viver”, frisa o bispo de Angra, embora reconheça que “os Açores sem turismo também não vivem”, mas apela ao “equilíbrio entre a necessidade do turismo, (…) se calhar, já como a principal indústria, e o excesso de turistas que pode matar a galinha dos ovos de ouro e trazer sofrimento à população”.

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