O antigo presidente do Conselho de Administração da SATA Luís Parreirão justificou hoje a opção da companhia açoriana pela compra de dois aviões A330, em 2015, como sendo, à data, os aparelhos mais fiáveis para viagens de longo curso.
“O caminho que se optou foi pela redução da frota da SATA e pelo aumento da fiabilidade. E foi assim que se chegou à opção pela aquisição de três A320, para a operação entre os Açores e o continente, e dois A330, para a operação com o continente americano”, explicou o ex-administrador, ouvido hoje na comissão parlamentar de inquérito à transportadora regional, reunida na ilha Terceira.
Segundo explicou, os aviões A310 que na altura operavam ao serviço da Azores Airlines, e que asseguravam as viagens para as comunidades açorianas nos Estados Unidos e Canadá, apresentavam várias “irregularidades”, obrigando a uma “manutenção exaustiva” por se revelarem “pouco fiáveis”.
“A manutenção desses aviões representaria um custo de 40 milhões de euros para os três anos seguintes”, recordou Luís Parreirão, referindo-se aos estudos encomendados na altura, que apontavam para a aquisição de “um avião mais pequeno”, mas que “não estava disponível no mercado”, naquele tempo.
Na altura, era secretário regional dos Transportes Vítor Fraga, também ouvido hoje na comissão de inquérito da Assembleia Legislativa dos Açores, que garantiu que a opção pela aquisição do avião A330, que acabou por gerar cerca de 40 milhões de euros de prejuízos, não foi responsabilidade sua, apenas da administração da companhia aérea.
“A decisão da renovação da frota e a opção pelas aeronaves não foi uma opção do Governo, foi uma opção do Conselho de Administração da SATA”, disse o ex-governante, adiantando que a tutela questionou apenas “se havia suporte técnico [estudos] para a mesma e foi respondido que sim”.
Confrontado pelos deputados com estas afirmações, Luís Parreirão disse apenas que a opção pela aquisição de novas aeronaves para a companhia aérea açoriana “foi feita em concertação com o acionista”, ou seja, com o Governo Regional, contrariando as declarações de Vítor Fraga.
O antigo administrador da SATA manifestou também muitas dúvidas sobre os valores divulgados pela companhia, a propósito dos prejuízos gerados com a operação do A330, que esteve mais de dois anos parado devido aos elevados custos de operação.
“Se comprar um carro, em regime de ‘leasing’, e colocá-lo numa garagem, ao fim de cinco anos vou ter de pagar um valor elevado, apesar de não ter andado com ele”, exemplificou o antigo administrador, que disse não compreender por que razão o avião não foi utilizado com maior regularidade, depois de ter deixado a transportadora aérea.
A comissão parlamentar de inquérito à SATA foi criada por proposta do deputado único do Chega nos Açores, José Pacheco, com o objetivo de “analisar as causas do significativo agravamento do desequilíbrio económico e financeiro do Grupo SATA entre 2013 e 2019”, bem como “o exercício da tutela política no Grupo SATA e o desempenho dos órgãos sociais das empresas”, entre 2020 e 2022.